quinta-feira, 23 de abril de 2020


21. Janácek: Sinfonietta |

Uma "Sinfonietta" para o cortejo vitorioso da celestial cidade de Brno, libertada para a eternidade por Leos Janácek.






Para o meu amigo Abílio Liberal, um menino que como já sabia o que era boa música, me deu a conhecer esta obra pela primeira vez.

(...os metais da New York Philharmonic ainda soam... desde aí.)






O jovem Leos Janácek (1854-1928) teria 15 anos de idade quando participa nas celebrações que assinalariam o milénio da morte do missionário do séc. IX, S. Cyril, em Velehrad no sul da Morávia, integrando o Coro do Mosteiro Agostinho de Brno (da cidade onde vivia e que também era conhecido pelo Coro do Mosteiro da Rainha), que se teria apresentado com o seu director, e 1º professor de Leos, Pavel Krizkovsky.
S. Cyril, juntamente com o seu irmão S. Methodius, teria sido o fundador do cristianismo eslavo na Morávia, tendo inclusive traduzido a Bíblia Grega para o eslavo usado na igreja, e por isso era uma figura importante num séc. XIX do nacionalismo, do revivalismo pan-eslavo... e do domínio ocidental dos Habsburgos.
O estímulo para a criação da sua "Sinfonietta" terá surgido décadas mais tarde, na apreciação das fanfarras interpretadas pela banda militar da cidade de Pisek, em Maio de 1925 (seguramente um extraordinário exemplo de natalidade erudita à custa de parentalidade bandística), onde teria ficado profundamente impressionado com 4 músicos que tocariam em uníssono, com trompetes cerimoniais e bandeiras da República Checa (um uníssono completo, portanto...), se bem que o significado das celebrações de 1869 teriam marcado o jovem Janácek de tal forma, também, que passados mais de 50 anos ainda poderíamos identificar algumas ideias que remontariam a esse evento.
Janácek começaria a escrever a obra em Março de 1926, de forma bastante fluida (certamente devido à unidade criativa que a sapiência dos seus 72 anos dariam às experiências que teria tido, aos 71 e aos 15), pelo que após alguns meses as suas fanfarras iniciais seriam impressas no jornal local para assinalar o comício Sokol (um organismo de ginástica com forte carga nacionalista), de 1926, tendo finalmente sido estreada a 26 de Junho desse ano, em Praga, por Václav Talich e a Orquestra Filarmónica Checa.
Esta "Sinfonietta", que seria co-dedicada às "Forças Armadas Checoslovacas" (o que mostra o seu fervor nacionalista e a crença que teria no seu país), e a Rosa Newmarch (uma escritora musical Inglesa, advogada da sua música nas ilhas britânicas), teria como objectivo: "Expressar o homem livre contemporâneo, a sua beleza espiritual e alegria, a sua força, coragem e determinação para lutar pela vitória" (palavras que o autor terá escrito à sua musa e confidente, Kamila Stosslová, a 29 de Março de 1926, antes de embarcar para Londres, onde seria o único compositor Checo a estar em Inglaterra a convite, depois de Dvorák). Dividida em 5 partes (Fanfarras (... de Pisek), O Castelo, O Mosteiro da Rainha, A Rua e A Câmara Municipal), faria a alusão do autor à sua cidade de Brno, não à Brno do domínio Habsburgo da escura câmara municipal e do opressivo castelo-prisão, mas, pelo contrário, uma Brno livre da opressão, com trompetes vitoriosos, a paz sagrada no mosteiro, as sombras tranquilas da noite, o respirar verde da colina e a visão crescente da grandiosidade da cidade. Não seria por isso estranho, que viesse a ser aceite como a sua obra orquestral mais popular, especialmente pelo empurrão inicial de Otto Klemperer, que a introduziria na Alemanha e na América, e de Sir Henry Wood, que a mostraria no Queen's Hall de Londres, a 10 de Fevereiro de 1928, 6 meses antes de Leon entrar numa Brno celestial, vitorioso... ao som dos seus trompetes.

Nuno Oliveira




"Sinfonietta"


Extractos que proponho para audição:
  • Philharmonia Orchestra
  • Simon Rattle
  • EMI, CDM 5 66980 2
"o belo": toda a obra, com especial destaque para os quadros 1, 3 e 5;
                I: Fanfarras - tutti (... estandartes desfraldados!) [youtube]
                II: O Castelo - tutti (...visita guiada através das muralhas...) [youtube]
                III: O Mosteiro da Rainha - tutti e trompas (...sonoridades sobrenaturais guardam
                           a porta de entrada da celestial Brno!) [youtube]
                IV: A Rua - tutti (...promenade eslava?) [youtube]
                V: A Câmara Municipal - tutti (...mistérios e apoteose final!) [youtube]





 
  • Orchestre Symphonique de Montréal
  • Charles Dutoit
  • Decca, 436 211-2 DH
"o belo": (Sonoridade luxuriante pelos músicos de Montréal.) I [youtube], II [youtube],
                III [youtube], IV [youtube], V [youtube]






  • Wiener Philharmoniker
  • Charles Mackerras
  • Decca, 410 138-2 DH
"o belo": (Um registo glorioso do mestre Mackerras. Som vivo e brilhante, junto com
                um Taras Bulba também a não perder.) I [youtube], II [youtube], III [youtube],
                IV [youtube], V [youtube]





 
  
Outras sugestões:
  • Michael Tilson Thomas/London Symphony Orchestra/Sony, SK 47182, I [youtube], Extractos [allmusic]



 




  • ZdeneK Macal/Royal Philharmonic Orchestra/PG, PCD 7678, Extractos [discogs]






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Leos Janácek [1926]




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Reflexões pós-musicais [Oronhe, Águeda, 13-02-1999]



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