Brooklyn - Paris - Nova Iorque (...ou o Jazz? - Modernismo? - Nacionalismo?): o percurso de Copland pelos vastos territórios inexplorados, na busca do "son(ho) Americano" que deu voz ao concerto p/ clarinete e ao bailado Appalachian Spring.
Para o meu amigo Tiago Abrantes. O primeiro exemplo de excelência musical que conheci.
Para o meu amigo Tiago Abrantes. O primeiro exemplo de excelência musical que conheci.
O New Yorker Aaron Copland, nasceria no bairro pobre de Brooklyn em 1900 e cedo mostraria aptidões para a música, uma qualidade que viria a ser amplificada pelas lições que receberia de Nadia Boulanger na sua passagem por Paris, em plenos anos 20, e que, seguramente, viria a ser influenciada, também, pela absorção das correntes artísticas, estéticas e de outras naturezas que por lá moravam nessa altura, apontamento que tomo a liberdade de fazer considerando as minhas próprias vivências na Academia Coimbrã, em plenos anos 90 (...pois se há coisas que mudam com frequência, outras haverá que, por outro lado, não mudarão tão facilmente, como o exemplo da exuberância da juventude vivida numa cidade de luz).
As suas amizades com Leonard Bernstein (que, numa festa de aniversário, teria ficado impressionado com a brilhante interpretação das suas variações para piano, pelo jovem Aaron de 19 anos... apesar do habitual ruído de fundo, típico das celebrações nova-iorquinas) e com a bailarina Martha Graham, mostrar-se-iam de extrema importância. Bernstein tornar-se-ia um dos seus maiores amigos e defensores, Graham encomendar-lhe-ia um bailado inspirado pela personagem Pocahontas, chamado Ballet for Martha... mas receberia um outro, inspirado numa "Casa da Pradaria" na Pennsylvania dos anos 30, de nome Appalachian Spring (...as voltas que a génese criativa dá). O natural aborrecimento entre ambos seria, contudo, estrategicamente evitado, na medida em que a escolha do nome do novo bailado haveria de ficar a cargo de Martha, que a partir do poema "The Bridge", de Hart Crane, escolheria (...e bem) o respectivo nome apaziguador. Ora aí está um caso exemplar de música de excelente qualidade, com um nome de não menor excelente adequação.
Appalachian Spring viria a ser estreada pelos treze músicos referidos na partitura original e respectivo corpo de bailado (referência que não devemos esquecer), na Biblioteca do Congresso de Washington DC, em 1944. Pelo que é conhecido, a justificação para o número treze não terá sido motivada por superstições ou problemas orçamentais (garantido pelo patrocínio de Elisabeth Sprague Coolidge, uma patrona venerada naquela época). Ao que parece, apenas não caberia mais ninguém no fosso disponível (uma restrição, portanto, de carácter arquitetónico ou nutricional).
Esta obra, que apresenta uma forma harmónica extremamente apelativa (um "achado", ou como diria Aaron: "a find"... do francês de Nadia: "a trouvaille..."), seria mais tarde preparada para orquestra: em forma de suite, para Serge Koussevitzky, em 1945, e sob a forma de bailado completo, para Eugene Ormandy, em 1954. Tornar-se-ia famosa a partir do dia da estreia e nunca mais nos deixaria de maravilhar, independentemente da forma como nos é apresentada, como aliás se pode comprovar através das propostas de Leonard Bernstein e do próprio compositor, que convido a escutar a seguir. (...) Estão em baixo. (...) Não têm de quê.
O concerto para clarinete seria encomendado por Benny Goodman em 1948 (à época bipolar... entre a interpretação jazzística e a clássica) e estreado pelo próprio, juntamente com Fritz Reiner e a NBC Symphony Orchestra, em 1950.
O lirismo do "chalumeau" europeu do primeiro andamento, a roçar o divino, e o carácter subliminar dos apontamentos jazzísticos e da música popular sul-americana do segundo, viriam a posicioná-lo no topo da escrita para este instrumento e contribuiriam para que fosse visto como uma espécie de ponte sonora entre os mundos do jazz e da música clássica (...as pontes são sempre de utilidade, já que nos permitem avançar quando nos encontramos num impasse... eu que o diga, perante o ecrã em branco e a sonoridade arrepiante que sai da campânula de Sharon Kam).
O Copland do Middle South rural Americano às praias do Rio de Janeiro (génese criativa... mais uma vez) viria a fechar os olhos pela última vez em 1990... mas, ainda assim, gosto de acreditar que um discreto entreolhar ocorre, sempre que carrego no play.
"Concerto p/ clarinete, cordas, harpa e piano"
"Appalachian Spring"
✨ Extractos que proponho para audição: (Concerto)
um forró em Copacabana.) [youtube]
✰ Outras sugestões:
O lirismo do "chalumeau" europeu do primeiro andamento, a roçar o divino, e o carácter subliminar dos apontamentos jazzísticos e da música popular sul-americana do segundo, viriam a posicioná-lo no topo da escrita para este instrumento e contribuiriam para que fosse visto como uma espécie de ponte sonora entre os mundos do jazz e da música clássica (...as pontes são sempre de utilidade, já que nos permitem avançar quando nos encontramos num impasse... eu que o diga, perante o ecrã em branco e a sonoridade arrepiante que sai da campânula de Sharon Kam).
O Copland do Middle South rural Americano às praias do Rio de Janeiro (génese criativa... mais uma vez) viria a fechar os olhos pela última vez em 1990... mas, ainda assim, gosto de acreditar que um discreto entreolhar ocorre, sempre que carrego no play.
Nuno Oliveira
"Concerto p/ clarinete, cordas, harpa e piano"
"Appalachian Spring"
✨ Extractos que proponho para audição: (Concerto)
- Sharon Kam
- London Symphony Orchestra
- Gregor Bühl
- Teldec, 8573-88482-2
um forró em Copacabana.) [youtube]
- Richard Stoltzman
- London Symphony Orchestra
- Lawrence Leighton-Smith
- RCA, 09026-61360-2
- Janet Hilton/Matthias Bamert/Scottish National Orchestra/Chandos, CHAN 8618 [youtube]
- Richard Stoltzman/Michael Tilson Thomas/London Symphony Orchestra/RCA, 09026-61790-2 [youtube]
- Richard Hosford/Alexander Schneider/The Chamber Orchestra of Europe/ASV, CD COE 811 [spotify]
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✨ Extractos que proponho para audição: (Appalachian Spring)
- New York Philharmonic
- Leonard Bernstein
- Sony, SMK 47543
fronteira... pelo seu maior adepto e defensor, a jogar em casa, numa Nova Iorque
de 1961.)
- Ensemble de 13 instrumentistas ou Boston Symphony Orchestra
- Aaron Copland
- CBS, MK 42431 ou RCA, 74321 21297 2
em voz própria.) [13 instrumentistas: youtube] [orquestra: youtube]
✰ Outras sugestões:
- San Francisco Symphony
- Michael Tilson Thomas
- RCA, 09026 63511 2
- Detroit Symphony Orchestra
- Antal Dorati
- Decca, 414 457-2 DH
de poesia em forma de música a não perder.)
- Gerard Schwarz/Seattle Symphony/Delos, DE 3154 [youtube]
- Richard Hickox/City of London Sinfonia/Virgin, VC 7 90766-2 [youtube]
- William Boughton/English Symphony Orchestra/Nimbus, NI 5246 [youtube]
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Na casa de Rock Hill, onde viveu de 1960 até ao seu falecimento em 1990 [Peeksill, s/ data]
Aaron Copland e Nadia Boulager ao centro, com a restante classe de composição [Paris, 1923]
Aaron Copland e Leonard Bernstein [ca. 1940]
Com Benny Goodman e a Orquestra Filarmónica de Los Angeles [s/ data]
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Piano? Súbito... [13-02-1999]
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