sexta-feira, 17 de abril de 2020


17. Chopin: concerto p/ piano nº 1 |

Frédéric Chopin, a cultura da arte do efémero e os reflexos da alma no seu concerto para piano e orquestra nº 1.






Para o meu primo Bruno (Buba), um criador de arte e de afetos, que agora já tem Chopin.

E ao orgulho que sinto pelo fado e filigrana da Maria João. Um mundo verdadeiramente à parte.






Chopin nasceu na Polónia, na localidade de Zelazowa Wola a 1 de Março de 1810, Fryderyk da parte da mãe que era Polaca, e viria a falecer em França, na cidade de Paris a 17 de Outubro de 1849, Frédéric por parte do pai que era Francês (...nome que terá eventualmente adoptado para toda a eternidade, tal era a paixão que sentia pela Cidade Luz... somos dois).
A profunda sensibilidade cedo o aliciou para que trilhasse o caminho da música, pelo que viria a graduar-se em piano no Conservatório de Varsóvia em 1829 (...no intervalo da sua vida...), com distinção, ao que parece justificada atendendo à ovação que o público vienense lhe terá supostamente manifestado, após o exotismo virtuosístico que terá empregue na interpretação dum "Rondó de Concerto" de Krakowiak, seguido duma improvisação sobre uma melodia popular natal (nesta fase ainda polaca...), numa apresentação que terá realizado a 18 de Agosto desse ano, em Viena (porventura numa espécie de viagem de finalistas do séc. XIX...). Regressa a Varsóvia e, evidentemente motivado pelo sucesso recentemente alcançado, escreve o seu concerto para piano nº... 2, que viria a ser conhecido pelo nº... 1 (por razões editoriais alegadamente alheias ao compositor...), entre os meses de Abril e Agosto de 1830, se bem que a sua publicação só tivesse lugar em 1833... (confusões editoriais que certamente prejudicam os assalariados da arte, e deste modo evitáveis).
As qualidades poéticas e a frescura da escrita original para piano do concerto nº 1, reflectiriam a luminosidade de espírito dos compatriotas (...sim, polacos) num tempo de esperanças na independência da Polónia, mas que serão posteriormente destroçadas com a supressão da insurreição polaca pela Rússia, em Setembro de 1931. O piano predomina totalmente e a orquestra acompanha a ação, o que o colocará de certo modo afastado de outros compositores românticos, devido à ausência própria do desejado confronto (... características também próprias de um frágil Chopin). Se de uma forma aparentemente convencional, surgem notações de que a fragilidade da orquestração é disfarçada pelo brilhantismo do piano, já a mim me faz pensar, porventura de forma menos convencional, que a simplicidade da orquestração (e genialidade que acrescenta destaque ao piano), não poderia ser outra que não esta... se fosse outra não seria Chopin (... e as suas características próprias, fazendo lembrar Mozart, onde tudo está onde só poderia estar...). Por exemplo, o Larghetto central, onde as cordas tocam em surdina, a que Chopin chamava "Romance", terá sido contado pelo próprio numa carta enviada ao seu amigo de infância Tytus Woyciechowski, em Maio de 1830: "...calmo e melancólico, dá a impressão de alguém que olha para um lugar onde pairam mil memórias felizes..."...ao piano (...permiti-me acrescentar, seguramente com alguma inconsciência do convencional).
Após a demonstração privada de 22 de Setembro de 1830, o concerto seria estreado de forma pública no Auditório da Cidade de Varsóvia e o maestro Carlo Soliva, em 11 de Outubro de 1830, sempre com o autor ao piano, tendo sido este o último concerto que daria na Polónia. Seguiu-se a viagem para Paris, com actuações em Breslau, Munique, Viena e Paris, cidade onde viveu até à sua morte, aonde chegaria em Setembro de 1831, escapando assim ao protagonismo do exército Russo em Varsóvia.
Já em Paris, estabelece-se como pianista, e embora a sua fama de virtuoso não tenha sido fulgurante (realizou cerca de 30 concertos), a sua sofisticação aristocrática faz dele um homem querido pela sociedade parisiense e um professor que era pretendido por toda a cidade. Fará uma grande amizade com Franz Liszt, ficando célebre a frase que este diria aos seus alunos acerca da música do amigo: "...olhem para as árvores, o vento faz balançar as suas folhas, mas os troncos não se mexem. Isso é o rubato de Chopin...", ...e a essência das grandes interpretações (...da Maria João).
Viria ainda a contribuir para o avanço da técnica de piano que herdou de Beethoven e Schubert, como são exemplos os seus estudos inovadores, e inclusive do próprio instrumento através da colaboração que terá com a famosa casa Pleyel (em extraordinária expansão face à elevada procura dos melhores pianos numa Paris aburguesada pela Monarquia de Julho, ...se houvera CAC este estaria certamente em alta por aquela altura!), sendo conhecida a amizade que terá tido com Friedrich Kalkbrenner, professor de piano no Conservatório de Paris e associado da firma Pleyel, a quem aliás dedicaria este seu concerto pela altura da publicação... de 1833.
A segunda parte da vida havia entretanto passado, e Frédéric viria a fechar os olhos pela última vez, num dia de Outono, com a brisa suave das folhas... caídas...

Nuno Oliveira




 "Concerto p/ piano nº 1, em mi menor, op. 11"


Extractos que proponho para audição: (nota: ver também publicação nº 42)
  • Maria João Pires
  • Chamber Orchestra of Europe
  • Emmanuel Krivine
  • Deutsche Grammophon, 457 585-2 GH
"o belo": toda a obra, com alguns destaques em baixo;
                I: piano/tutti aos 4:42 (intimismo, sensibilidade e fatalismo... será isto fado?), 6:52
                           (o efémero de uma vida em "suspensão"...), 7:21 (filigrana servida à trompa),
                           8:12 (...o amor não é uma coisa muito linda?) [youtube]
                II: piano/tutti (...brisas nas folhagens de Belgais e troncos imóveis do fagote...)
                           [youtube]
                III: piano/tutti (...danças no salão da alma de cada um.) [youtube]





 
  • Artur Rubinstein
  • New Symphony Orchestra of London
  • Stanislaw Skrowaczewski
  • RCA, CD 5-77955-3
"o belo": (O inimitável e memorável Rubinstein numa interpretação de referência.
                   Sublime e imperdível.) I [youtube], II [youtube], III [youtube]




 

    
Outras sugestões:


 




 

 




 



 







 

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Frédéric Chopin [por Delacroix, Paris, Museu do Louvre, 1838]




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Túmulo de Frédéric Chopin [Paris, Cimetière du Père-Lachaise, 2016]
 





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Vinhos que sabem a maças

O Nuno e o Bruno na Quinta de Tralcume [Vilar Seco, Nelas, 13-11-2022/Dia mundial do enoturismo]


   
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