A história de “Romeu e Julieta”, um sonho de William Shakespeare no
pesadelo de Sergei Prokofiev.
Para a minha Julieta.
Por uma história de 20 anos, lembrados há poucos dias.
(E à lembrança de uma noite no Théâtre des Champs-Élysées em Paris, na companhia deste "Romeu e Julieta", David Afkham e da Orchestre National de France [em 04-04-2013])
Sergei Prokofiev (1891-1953) terá sido o último dos grandes compositores russos a crescer na era Czarista e um dos primeiros artistas a sair da União Soviética com a bênção do estado. Assim, e após a revolução de Outubro de 1917, Prokofiev parte para a América em Maio de 1918, na busca de uma paz que não existiria numa Europa caótica da 1ª Guerra Mundial (...nem numa problemática Rússia Bolchevique, por certo), mais do que devido a convicções políticas, à partida... (já à chegada...(?)). Uma saída de curta duração seria autorizada pelo recentemente criado Ministério da Cultura Soviético, que porventura por ser novo nestas coisas, ficaria sujeito ao acostumado trabalho (...e eventual humilhação) de renovação da correspondente declaração de autorização, que sucessivamente ia caducando durante os 9 anos que Sergei esteve ausente dos territórios da mãe Rússia (falta da adequada ligação interministerial seguramente...). Na realidade, Prokofiev viveria 5 anos de sucessos na América e em 1923 partiria para Paris, tendo regressado definitivamente à União Soviética em 1936, após uma breve passagem que teria tido em 1927 (...porventura atendendo a obrigações administrativas no âmbito de determinados processos existentes no Ministério da Cultura... e seguramente noutros). A diminuição de encomendas provenientes da Europa e América (teria inclusive um maior número de trabalhos pedidos pela pátria natal), a sua falta de adequação à atmosfera vanguardista da Paris daquela época, e a natural necessidade de um estilo mais simples, das saudades de casa, da terra e das pessoas, terão sido os motivos que o levariam a regressar a uma União Soviética de Stalin (que lhe terá garantido uma liberdade artística que negaria a outros... mas sendo Stalin...), diferente da que tinha deixado, se bem que Prokofiev também estaria diferente do enfant terrible das composições iconoclastas electrizantes da sua juventude (que deixavam as audiências numa confusão), pois era agora um compositor mundialmente famoso, que procurava simplicidade e um estilo que enfatizasse a expressão emocional de forma directa, em vez das novidades de sintaxe (...ao gosto Parisiense).
O seu bailado "Romeu e Julieta", inspirado no impetuoso Montecchio, Romeu, e na bela e inocente Capuleto, Julieta, do drama de William Shakespeare, terá sido uma das primeiras obras que escreveria após o seu regresso a casa, por sugestão do amigo Sergei Radlov, director do Teatro Académico Estatal de Ópera e Ballet de Leninegrado (actual Teatro Mariinsky), em 1934, mas que entretanto viria a ser afastado dessa posição e a cancelar a encomenda, durante a remodelação administrativa do teatro, que passaria a chamar-se Teatro Académico Estatal Kirov (actual Teatro Mariinsky...), em honra de um dos patrões do Partido Comunista Soviético: Sergei Kirov...
Contudo, Prokofiev e Radlov continuariam a trabalhar no projecto, que viria a ser encomendado pelo Teatro Bolshoi de Moscovo na Primavera de 1935 (obrigando Sergei ao esforço requerido para a necessária conclusão, que seria levado a cabo na casa de repouso do teatro moscovita... perto de Tarusa, no rio Oka... durante as férias de Verão...), ...mas que seria posteriormente rejeitado, ao que parece por ter sido considerado impróprio à dança e pouco fidedigno ao conto original (supostamente Prokofiev proporia, à data, um final feliz à história, porque alegadamente achava que: "Os vivos podem dançar, enquanto que os mortos não poderão dançar porque estão deitados!"... aparentemente, uma verdade Lapalissada facilmente contornável com o adequado espírito imaginativo).
O bailado estrear-se-á finalmente... fora da Rússia, em Brno, na Checoslováquia, a 30 de Dezembro de 1938, mas serão precisos mais 2 anos de revisões da música e do enredo, com a integração de vários números de dança inteiramente novos (ao todo 52) e o reforço da orquestração original, para que fosse apresentado pela primeira vez na Rússia, o que aconteceria em Leninegrado a 11 de Janeiro de 1940, não sem que os já tradicionais problemas de cenário e coreografia (de Leonid Lavrovsky) fossem salvos pelo brilhantismo da música de Prokofiev, o que terá levado a primeira Julieta (russa...) Galina Ulanova, a dizer na festa daquela noite: "Nunca houve maior história de infortúnio, do que a da música de Prokofiev para Romeu!". Seguiu-se a gargalhada sonora de Sergei, a fama mundial do seu Romeu e algum arrependimento da esposa Lina por ter perdido a prática do francês ou do inglês...
"Romeu e Julieta"
✨ Extractos que proponho para audição: (ver também publicações nº 56, 79 e 87)
Para a minha Julieta.
Por uma história de 20 anos, lembrados há poucos dias.
(E à lembrança de uma noite no Théâtre des Champs-Élysées em Paris, na companhia deste "Romeu e Julieta", David Afkham e da Orchestre National de France [em 04-04-2013])
Sergei Prokofiev (1891-1953) terá sido o último dos grandes compositores russos a crescer na era Czarista e um dos primeiros artistas a sair da União Soviética com a bênção do estado. Assim, e após a revolução de Outubro de 1917, Prokofiev parte para a América em Maio de 1918, na busca de uma paz que não existiria numa Europa caótica da 1ª Guerra Mundial (...nem numa problemática Rússia Bolchevique, por certo), mais do que devido a convicções políticas, à partida... (já à chegada...(?)). Uma saída de curta duração seria autorizada pelo recentemente criado Ministério da Cultura Soviético, que porventura por ser novo nestas coisas, ficaria sujeito ao acostumado trabalho (...e eventual humilhação) de renovação da correspondente declaração de autorização, que sucessivamente ia caducando durante os 9 anos que Sergei esteve ausente dos territórios da mãe Rússia (falta da adequada ligação interministerial seguramente...). Na realidade, Prokofiev viveria 5 anos de sucessos na América e em 1923 partiria para Paris, tendo regressado definitivamente à União Soviética em 1936, após uma breve passagem que teria tido em 1927 (...porventura atendendo a obrigações administrativas no âmbito de determinados processos existentes no Ministério da Cultura... e seguramente noutros). A diminuição de encomendas provenientes da Europa e América (teria inclusive um maior número de trabalhos pedidos pela pátria natal), a sua falta de adequação à atmosfera vanguardista da Paris daquela época, e a natural necessidade de um estilo mais simples, das saudades de casa, da terra e das pessoas, terão sido os motivos que o levariam a regressar a uma União Soviética de Stalin (que lhe terá garantido uma liberdade artística que negaria a outros... mas sendo Stalin...), diferente da que tinha deixado, se bem que Prokofiev também estaria diferente do enfant terrible das composições iconoclastas electrizantes da sua juventude (que deixavam as audiências numa confusão), pois era agora um compositor mundialmente famoso, que procurava simplicidade e um estilo que enfatizasse a expressão emocional de forma directa, em vez das novidades de sintaxe (...ao gosto Parisiense).
O seu bailado "Romeu e Julieta", inspirado no impetuoso Montecchio, Romeu, e na bela e inocente Capuleto, Julieta, do drama de William Shakespeare, terá sido uma das primeiras obras que escreveria após o seu regresso a casa, por sugestão do amigo Sergei Radlov, director do Teatro Académico Estatal de Ópera e Ballet de Leninegrado (actual Teatro Mariinsky), em 1934, mas que entretanto viria a ser afastado dessa posição e a cancelar a encomenda, durante a remodelação administrativa do teatro, que passaria a chamar-se Teatro Académico Estatal Kirov (actual Teatro Mariinsky...), em honra de um dos patrões do Partido Comunista Soviético: Sergei Kirov...
Contudo, Prokofiev e Radlov continuariam a trabalhar no projecto, que viria a ser encomendado pelo Teatro Bolshoi de Moscovo na Primavera de 1935 (obrigando Sergei ao esforço requerido para a necessária conclusão, que seria levado a cabo na casa de repouso do teatro moscovita... perto de Tarusa, no rio Oka... durante as férias de Verão...), ...mas que seria posteriormente rejeitado, ao que parece por ter sido considerado impróprio à dança e pouco fidedigno ao conto original (supostamente Prokofiev proporia, à data, um final feliz à história, porque alegadamente achava que: "Os vivos podem dançar, enquanto que os mortos não poderão dançar porque estão deitados!"... aparentemente, uma verdade Lapalissada facilmente contornável com o adequado espírito imaginativo).
O bailado estrear-se-á finalmente... fora da Rússia, em Brno, na Checoslováquia, a 30 de Dezembro de 1938, mas serão precisos mais 2 anos de revisões da música e do enredo, com a integração de vários números de dança inteiramente novos (ao todo 52) e o reforço da orquestração original, para que fosse apresentado pela primeira vez na Rússia, o que aconteceria em Leninegrado a 11 de Janeiro de 1940, não sem que os já tradicionais problemas de cenário e coreografia (de Leonid Lavrovsky) fossem salvos pelo brilhantismo da música de Prokofiev, o que terá levado a primeira Julieta (russa...) Galina Ulanova, a dizer na festa daquela noite: "Nunca houve maior história de infortúnio, do que a da música de Prokofiev para Romeu!". Seguiu-se a gargalhada sonora de Sergei, a fama mundial do seu Romeu e algum arrependimento da esposa Lina por ter perdido a prática do francês ou do inglês...
Nuno Oliveira
"Romeu e Julieta"
✨ Extractos que proponho para audição: (ver também publicações nº 56, 79 e 87)
- Berliner Philharmoniker
- Claudio Abbado
- Deutsche Grammophon, 453 439-2 GH
Registo icónico e imperdível.), no entanto proponho as secções seguintes;
Dança dos cavaleiros [DC]: tutti (Cavalaria pesada ao vivo!) [youtube]
Romeu e Julieta [RJ]: tutti (Declaração de amor.) [youtube]
Funeral de Julieta [FJ]: tutti (Porquê?) [youtube]
Morte de Julieta [MJ]: tutti, trompa ("o belo" renascer da mais bela história
Romeu e Julieta [RJ]: tutti (Declaração de amor.) [youtube]
Funeral de Julieta [FJ]: tutti (Porquê?) [youtube]
Morte de Julieta [MJ]: tutti, trompa ("o belo" renascer da mais bela história
de amor.) [youtube]
- Philharmonia Orchestra
- Claus Peter Flor
- RCA, 09026 61388 2
[completo] [spotify]
Cena à Varanda [CV] [youtube], Último adeus [UA] [youtube], [FJ] [youtube],
- Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
- Libor Pesek
- Virgin, VC 7 59278 2
Cena à Varanda [CV] [youtube], Último adeus [UA] [youtube], [FJ] [youtube],
[MJ] [youtube]
A vingança de Romeu [VR] [youtube], [FJ] [youtube], [MJ] [youtube]
[CV] [youtube], [VR] [youtube], [MJ] [youtube]
[CV] [youtube], [VR] [youtube], [MJ] [youtube]
✰ Outras sugestões:
- Berliner Philharmoniker
- Esa-Pekka Salonen
- CBS, MK 42662
A vingança de Romeu [VR] [youtube], [FJ] [youtube], [MJ] [youtube]
- Chicago Symphony Orchestra
- Georg Solti
- Decca, 410 200-2 DH
[CV] [youtube], [VR] [youtube], [MJ] [youtube]
- Kirov Orchestra, Mariinsky Theatre, St Petersburg
- Valery Gergiev
- Philips, 464 726-2 PM2
[CV] [youtube], [VR] [youtube], [MJ] [youtube]
- Charles Dutoit/Orchestre Symphonique de Montréal/Decca, 430 279-2 DH (O sentimento da América do norte francófona.) [DC] [youtube], [MJ] [youtube]
- Michael Tilson Thomas/San Francisco Symphony/RCA, 09026-68288-2 (A visão dos Norte Americanos do Pacífico.) [DC] [youtube], [MJ] [youtube]
- Yoel Levi/Cleveland Orchestra/Telarc, CD-80089 (A versão dos músicos de Lake Erie, na costa este Americana.) [DC] [youtube]
- Riccardo Muti/The Philadelphia Orchestra/EMI, CDC 7 47004 2 (O drama e excitação por um mestre italiano nascido a sul de Verona.) [CV] [youtube], Morte de Tibaldo [MT] [youtube], [DC] [youtube], [UA] [youtube], [FJ] [youtube]
- Gerard Schwarz/Seattle Symphony Orchestra/Delos, D/CD 3050 (A interpretação dos Norte Americanos do Pacífico Norte.) [DC] [youtube], [UA] [youtube], [FJ] [youtube]
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"Julieta" [Paris, 2014]
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