segunda-feira, 13 de abril de 2020


13. Brahms, Saint-Saëns: sinfonias nº 3 |

Paralelo Brahms/Saint-Saëns: as suas terceiras e o lirismo romântico que provocam a terceiros (onde eu, como não podia deixar de ser, me tento incluir).






Para o meu amigo Luis Oliveira (Bôla), um menino que vi dar as primeiras notas de música... numa espécie de trompa com um nome de inspiração religiosa...

(...e que me deixou cheio de orgulho, quando percebi que estava sentado na cadeira do tubista da Orquestra Sinfónica do Porto, Casa da Música, num concerto de memória deste mesmo reportório dirigido pelo mestre Gerard Schwarz! [27-11-2009])






O Johannes Brahms, doutor Honnoris Causa pela Universidade de Breslau, em 1879 (tendo sido também agraciado pela Universidade de Cambridge, o que, pelo facto de ter recusado o coloca distante de Saint-Saëns neste capítulo, uma vez que este último terá aceite a distinção que lhe fora atribuída não só por esta academia, mas, também, pela sua histórica rival de regatas, de Oxford... dando certamente um bom exemplo de: entendimento via excelência, contrário a: desacordo via TV Fest), terá iniciado o processo inspirador para a criação da sua 3ª sinfonia, numa viagem pelo Reno na primavera de 1883 (facto que eventualmente justificará algum eco da sinfonia "Renana" do seu amigo Robert Schumann, no tema inicial, mas que de algum modo poderá ser considerado redutor, no sentido de que a sua presença frequente na residência dos Schumann pudesse fornecer inspirações temáticas variadas...), e materializado a sua intenção em Wiesbaden, nas férias de verão que se seguiram (para os amantes das rotas eruditas: num dos quartos da sra. von Dewitz, no nº 19 da Geisbergstrasse).
A sinfonia nº 3 terá sido estreada a 2-12-1883, em Viena, pelo maestro Hans Richter e pela Orquestra Filarmónica da Sociedade local, com assinalável sucesso e acolhimento favorável do conhecido crítico vienense Hanslick, o que aparentemente terá levado os indecisos ou menos esclarecidos a a acolherem com igual entusiasmo (salvo eventuais devotos Brucknerianos...). Seguiu-se Berlim, Wiesbaden, Meiningen, Leipzig e uma bela maneira para Brahms, de terminar o ano onde completaria meio século de existência.
Numa época influenciada pelos poemas sinfónicos de Liszt e pelo drama musical de Wagner, a tentativa da criação da "música absoluta" ("curativa" de um "certo" romantismo), por Brahms, tem na sua 3ª sinfonia um dos seus exemplos mais bem conseguidos. Os acordes F-A(#)-F, inspirados na sua filosofia de vida ("Frei aber Froh"; "livre mas alegre"), em resposta ao modus vivendi do seu amigo, o virtuoso violinista Joseph Joachim, F-A-E ("Frei aber Einsam"; "livre mas só"), percorrem toda a sinfonia com elevado poder expressivo e um lirismo próprio... de um bom exemplo de brincadeiras que dão um óptimo resultado!


Já a um Camille Saint-Saëns, organista idolatrado em Inglaterra (por razões que se prenderão com a criação de óperas sobre temáticas britânicas, como Henrique VIII, e a não recusa de determinadas distinções..., sendo conhecida a boa impressão que terá causado à Rainha Victória aquando da sua recepção em Windsor, através de inscrição da própria no real diário, repetindo-se posteriormente o resultado, com outra rainha: a Alexandra, e outro palácio: de Buckingham, neste caso de desfecho aparentemente mais proveitoso para Saint-Saëns, porque para além do tradicional chá lhe ter sido servido pela real mão, também lhe terá sido oferecido uma medalha de ouro em forma de souvenir... aparentemente, o uso de sobrecasaca e chapéu alto, aliado a uma barba imaculadamente aparada, dariam os sinais asseguradores de respeitabilidade, necessários ao típico olhar anglo-saxónico...), terá sido encomendada uma sinfonia pela Royal Philharmonic Society de Londres, no início de 1886.
A escrita da obra iniciar-se-á de seguida, tendo um rascunho sido partilhado com o seu amigo e mentor, Franz Liszt, que ter-lhe-á dado a bênção pouco tempo antes do seu falecimento (...certamente terá identificado traços da sua própria personalidade, face à grandiosidade das forças utilizadas, imposta em parte pelo uso invariável do sempre musculado órgão... (salvaguardo que me refiro ao instrumento musical)), benção essa que aparentemente terá sido recíproca, uma vez que Saint-Saëns lhe terá dedicado a sua sinfonia, como se poderá constatar na 1ª página do manuscrito através da inscrição: "À la mémoire de Franz Liszt".
A 19-05-1886 (data de particular significado...), realiza o check-out (...Londrino) do alojamento onde se encontrava perto de Baker Street (porventura sem mistérios dignos dum registo que perdurasse até aos nossos dias), e desloca-se para St. James Hall, onde dirige a estreia com o assinalavel entusiasmo do público presente, povo e realeza incluído, na medida em que terá recebido os parabéns do Principe de Gales (futuro Rei Eduardo VII, consorte da Rainha Alexandra...), de especial importância visto que se tratava de um conhecido patrono das artes da época.
Seguiu-se a estreia em Paris com similar nível de êxito (alegadamente, ultrapassando até o triunfo alcançado em Londres, não estivesse Saint-Saëns a jogar em casa... alegadamente, porque nem sempre é assim...), sendo conhecida a exclamação de Charles Gounod (porventura seu amigo): "Ali vai o Beethoven Francês!", no momento em que Saint-Saëns se retirava do palco.
Saint-Saëns nasceu um menino prodígio em 1835, e cedo começou a olhar para as estrelas a partir do Observatório de Paris, ao mesmo tempo que compunha de forma tão natural como "uma macieira produz maças". Mais tarde, numa Paris distraída pela iluminação incandescente da ópera, Saint-Saëns improvisava ao órgão da sua igreja da Madeleine e compunha sinfonias apaixonantes como o amigo George Bizet lhe tinha pedido e o Criador lhe tinha destinado fazer...

Nuno Oliveira




 Johannes Brahms, "Sinfonia nº 3, em fá maior, op. 90"
 Camille Saint-Saëns, "Sinfonia nº 3, em dó menor, op. 78, "Orgão""


Extractos que proponho para audição: (Brahms)
  • Berliner Philharmoniker
  • Herbert von Karajan
  • Deutsche Grammophon, 431 593-2 GCE
"o belo": toda a sinfonia (...um von Karajan insuperável... uma Berliner Philharmoniker
                descoberta, nua e à vista de todos.) [youtube 1ºand] [youtube 2ºand] [youtube 3ºand]
                [youtube 4ºand] (recomendo também a sinf. nº 4)



 


  • Chicago Symphony Orchestra
  • Georg Solti
  • Decca, 414 488-2 DH
"o belo": 3º andamento, trompa aos 3:48 (...Clevenger em Maio 1978...) [youtube]
                4º andamento, tutti (...e ao 7º dia Deus criou o aço de Chicago, Illinois!) [youtube]




 

  • Wiener Philharmoniker
  • James Levine
  • Deutsche Grammophon, 439 887-2 GH
"o belo": 3º andamento, tutti (...mais expressivo? Talvez, mas difícil.) [youtube]
                4º andamento, tutti (...exuberância sonora alive.) [youtube]





 
  • Wiener Philharmoniker
  • Leonard Bernstein
  • Deutsche Grammophon, 410 083-2 GH
"o belo": 1º andamento, tutti (Reverberação da tensão acumulada no Musikverein.[youtube]
                4º andamento, tutti (Consistência e espontaneidade até ao fim.) [youtube]
 




 
  • New York Philharmonic
  • Kurt Masur
  • Teldec, 4509-90862-2
"o belo": 1º e 3º andamentos, tutti (...a magia de Masur ao vivo no Avery Fisher Hall.)
                [youtube 1ºand]  [youtube 3ºand]




 

  • Cleveland Orchestra
  • Christoph von Dohnányi
  • Teldec, 243 711-2
"o belo": 3º andamento, trompa aos 3:44 (...som total...) [youtube]





 
  
Outras sugestões:
  • Herbert von Karajan/Berliner Philharmoniker/Deutsche Grammophon, 427 496-2 GH [youtube]







 
  • Neeme Järvi/London Symphony Orchestra/Chandos, CHAN 8646 [spotify]




  • Colin Davis/Symphonie-Orchester des Bayerischen Rundfunks/RCA, RD60118 [youtube]










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Extractos que proponho para audição: (Saint-Saens) 
  • Ulster Orchestra
  • Yan Pascal Tortelier
  • Chandos, CHAN 8822
"o belo": toda a sinfonia (...testemunho de um nativo de Paris e um som infinito no Ulster
               Hall de Belfast.);
               1º and. [youtube], 2º and. [youtube], 3º and. [youtube], 4º and. [youtube] 





 
  • Berliner Philharmoniker
  • James Levine
  • Deutsche Grammophon, 419 617-2 GH
"o belo": 1º andamento, tutti (...ecos da Incompleta de Schubert...no ar.) [youtube]
                2º andamento, tutti (...paixão e instrumentos de fricção...) [youtube]
                4º andamento, tutti (...sonoridades na Jesus Christus Kirche.) [youtube]





  
  • Pittsburgh Symphony Orchestra
  • Lorin Maazel
  • Sony, SK 53979
"o belo": 2º andamento, tutti (...sussurro amoroso no ar... um sopro nos cabelos...) [youtube]
                4º andamento, tutti (...sonoridades na St. Ignatius Loyola Church, New York.) [youtube]





 
  • Orchestre Symphonique de Montréal
  • Charles Dutoit
  • London, 410 201-2 LH
"o belo": 2º andamento, tutti (directo e em cheio no peito.) [youtube]
                4º andamento, tutti (...sonoridades na Église St. Eustache, Montréal.) [youtube]




 

  • Orchestre National de France
  • Seiji Ozawa
  • EMI, CDC 7 47477 2
"o belo": 1º andamento, tutti (fraternidade francesa na Salle Wagram de Paris.) [youtube]
                4º andamento, tutti (...sonoridades na Cathédrale de Chartres.) [youtube]






  • Boston Symphony Orchestra
  • Charles Munch
  • RCA, 09026-61500-2
"o belo": toda a obra (A gravação mítica do mestre francês em 1959.);
                1º and. [youtube], 2º and. [youtube], 3º and. [youtube], 4º and. [youtube] 





 
 
Outras sugestões:
  • Herbert von Karajan/Berliner Philharmoniker/Deutsche Grammophon, 400 063-2 [youtube]



 
  • Mariss Jansons/Oslo Philharmonic Orchestra/EMI, CDC-555184  [youtube]



 
  • Enrique Bátiz/London Philharmonic Orchestra/ASV, CD DCA 665  [allmusic]







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Johannes Brahms [Viena, 1882]




Camille Saint-Saëns [Paris, finais dos anos 1880]





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Pausa [Oronhe, Águeda, 13-02-1999]
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