terça-feira, 14 de abril de 2020


14. Respighi: Pinheiros de Roma, Fontes de Roma, Festivais Romanos |

Ottorino Respighi e a música para os postais ilustrados do posto de turismo de Roma que o Gabriel d'Annunzio comprou...






Para a minha afilhada Rita, um passarinho que me apareceu na juventude, bateu as asas e não mais parou de voar.
(...e para o mestre António Saiote... por Toscanini...)






O italiano Ottorino Respighi nasceu na cidade de Bolonha em 1879, e porque pintava belas superfícies musicais, mais do que musicava excessivas profundidades emocionais, viria a ser conhecido à época como o "Impressionista Romântico" (...ou seja: ao início parecia romântico, mas depois só dava essa impressão...). Desde cedo, mostraria interesse pelos timbres mágicos do impressionismo francês de Debussy e Ravel, e de Richard Strauss (que, acrescento também, dominava uma gama de timbres se não ao nível de um mágico, pelo menos de um druida), e vontade da correspondente aplicação prática, pelo que viria a estudar com Rimsky-Korsakov, em S. Petersburgo entre 1900 e 1903, o que, atendendo à longevidade do curso, indiciaria as boas qualidades pedagógicas do mestre russo, e atestaria a ajuizada escolha do aprendiz.
Após a 1ª Guerra Mundial, o mundo iria assistir ao renascimento da música italiana, encorajada pelos ideais do musicólogo Fausto Torrefranca, que defendia um verdadeiro estilo italiano através do corte com as tradições operáticas e o retorno ao espírito dos antigos mestres (barrocos e mesmo mais anciãos...). Respighi terá achado esses ideais iconoclastas imensamente desafiantes e excitantes, contudo, sendo um homem de cultura, o seu olhar ultrapassaria a linha do horizonte e a inspiração chegaria mais além, o que nos leva a crer que aplicaria apenas a metade desafiante (o impressionismo romântico... mais uma vez em acção). Terá aparentemente agido bem, na medida em que se ouvirá falar pouco sobre aqueles que foram simultaneamente, na maré da excitação.
Porventura as suas obras mais conhecidas, a trilogia Fontes de Roma, Pinheiros de Roma e Festivais Romanos, são inspiradas na cidade de Roma (claro está...) e na sua extraordinária história, comprovando a habilidade de Respighi em sugerir imagens (...visuais... envolvidas na arquitectura, natureza e comunidade) ao som.
A trilogia ter-se-á iniciado pela composição de Fontes Romanas, em 1916, que tenta retratar a beleza de 4 fontes de visita obrigatória (Valle Giulia, Tritone, Trevi e Villa Medici), no momento do dia que as torna mais apelativas ao olhar, face à superlativa harmonia com a paisagem envolvente (nevoeiro do nascer do dia, azáfama matinal, luminosidade ao meio-dia, sons de pássaros e o vento a acariciar a folhagem num final de tarde). Terá sido estreada em 1927, em Roma, por António Guarnieri e celebrizada por Arturo Toscanini em repetidas representações no ano seguinte.
Já os Pinheiros de Roma de 1924, apoiar-se-ão numa grande orquestra com variados recursos instrumentais, desde as antigas trombetas de guerra da Roma antiga (buccine) ao recente fonógrafo (e correspondente registo sonoro do canto de pássaros), na tentativa de recriar circunstâncias vividas (passadas, presentes e futuras... não só a marcha dum vitorioso exercito romano ou o choro nas profundezas duma catacumba, como afortunadamente também, as brincadeiras de crianças ou o canto dum rouxinol, ao longe numa noite de luar!... que alguém, obviamente, escutou) entorno dos lugares onde habitariam os mais célebres pinheiros romanos (Villa Borghese, Catacomba, Gianicolo e Via Appia). A sua estreia terá ocorrido em 1924, em Roma, por Benardino Molinari e Toscanini (de novo) torná-la-á célebre na América, com a sua introdução no Carnegie Hall de Nova Iorque, ao lado da Orquestra Filarmónica local, em 1926 (...se bem que Resphigi também a terá dirigido por diversas vezes durante a sua estadia no continente americano, tendo começado em Filadélfia).
Quanto aos Festivais Romanos, composto em 1928, a fonte inspiradora ter-se-á revelado na população romana, nos seus rituais comunitários ou festividades marcantes, aparentemente escolhas de escassa compatibilidade, uma vez que após o olhar sanguinário do corvo que observaria simultaneamente leões e cristãos na arena do coliseum (Circenses)... os sinos assinalariam a entrada dos peregrinos que celebravam o Jubilo Cristão numa cidade que consideravam Santa (Il Giubileo)... A obra completar-se-á com as serenatas nos festivais de Outono ao som de bandolins (L'Ottobrata), e as festividades Epifânicas da edilidade na Praça Navona (La Befana), neste caso de relacionamento temático à partida um pouco mais consensual. A estreia terá ocorrido em 1929, em Nova Iorque, por Toscanini (uma vez mais).
Resphigi terá vivido de maneira muito peculiar e sem receios de alegadas criticas, tendo sido um dos compositores italianos de género puramente sinfónico, numa época do status quo estabelecido pela ópera de Verdi e Puccini, e num registo inalteradamente tonal, apesar das correntes experimentais do dodecafonismo de um Schoenberg, que após a audição das obras chegaria a testemunhar: "que ainda se poderia produzir muito boa música em dó maior".
Excêntrico italiano do inicio do séc. XX ou avant-gard para época? O Ottorino só fazia o que queria... os dois!?... ou talvez como os seus Pinheiros... raízes no passado... ramos no futuro...

Nuno Oliveira



"Pinheiros de Roma"
"Fontes de Roma"
"Festivais Romanos"


Extractos que proponho para audição:
  • The London Philharmonic
  • Carlo Rizzi
  • Teldec, 4509-97438-2
"o belo": todos os andamentos de Pinheiros de Roma (PR), e alguns andamentos das Fontes
                de Roma (FtR) e dos Festivais Romanos (FvR)
                PR I - tutti (brincadeiras de crianças na Villa Borghese... e nas trompas!?) [youtube]
                PR II - metais aos 2:22 e 6:00 (lágrimas no trompete e trompas dilaceradas...) [youtube]
                PR III - clarinete aos 6:24 (a visão da passarada fonografada no Gianicolo...da minha
                           janela.) [youtube]
                PR IV - tutti (buccinas e outros artefactos... para a glória de Roma!!!) [youtube]
                FtR II - tutti (...a azáfama do turismo Romano.) [youtube]
                FtR III - tutti (o som da luz...) [youtube]
                FvR I - tutti (...visão de corvo... antes do jantar.) [youtube]
                FvR IV - tutti (...idílicas festas.) [youtube]





 
  • The Philadelphia Orchestra
  • Riccardo Muti
  • EMI, D 134443
"o belo": PR I [youtube], PR IV [youtube], FtR II [youtube], FtR III [youtube], FvR I [youtube]





 
  • Pittsburgh Symphony Orchestra
  • Lorin Maazel
  • Sony, SK 66843
"o belo": PR I [youtube], PR IV [youtube], FtR II [youtube], FtR III [youtube], FvR I [youtube]






  • Orchestre Symphonique de Montréal
  • Charles Dutoit
  • Decca, 410 145-2 DH
"o belo": PR I [youtube], PR IV [youtube], FtR II [youtube], FtR III [youtube], FvR I [youtube]






  • Academy of St Martin in the Fields
  • Neville Marriner
  • Philips, 432 133-2 PH
"o belo": PR I [youtube], PR IV [youtube], FtR II [youtube], FtR III [youtube], FvR I [youtube]






  • San Francisco Symphony
  • Edo de Waart
  • Philips, 411 419-2 PH
"o belo": PR I [youtube], PR III [youtube], FtR II [youtube], FtR III [youtube]
                  ("Il cuccù" de "Gli Uccelli" [youtube])






  • Berliner Philharmoniker
  • Herbert von Karajan
  • Deutsche Grammophon, 413 822-2 GH
"o belo": PR I [youtube], PR IV [youtube], FtR II [youtube], FtR III [youtube]






  
Outras sugestões:
  • Daniele Gatti/Orchestra dell'Accademia Nazionale di St Cecilia, Roma/Conifer, 514920WH [youtube]



 
  • Sergiu Celibidache/SWR Stuttgart Radio Symphony Orchestra/Deutsche Grammophon, 453 191-2 GH [youtube]






 



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Ottorino e Elsa Respighi [1932]




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A solo, acompanhada pela Banda Alvarense [Águeda, Julho/2014].




Com a Banda Alvarense a acompanhar o Steven Mead (euphonium) [Águeda, Fevereiro/2005].



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