quarta-feira, 22 de abril de 2020


20. Schumann: concerto p/ violoncelo |

Um concerto p/ violoncelo e o movimento perpétuo dum sonho, do qual Robert Schumann nunca chegaria a acordar...






Para o meu filhote João, que à minha pergunta: "...que concerto p/ violoncelo?", respondeu: "O de Schumann!"

(...o que me pareceu estranho na altura, mas que agora começo a perceber porquê...)






A ligação do alemão Robert Schumann (1810-1856) ao Romantismo da época, terá começado muito cedo com a leitura obsessiva das obras de Goethe, Schiller e Byron, na livraria da qual o pai era proprietário, em Zwickau.
Quando em 1830 decide firmemente que teria uma carreira na música (... tempos mais favoráveis esses, seguramente), seria na de pianista que depositaria esperanças em deixar a sua marca, um plano que viria a falhar no ano seguinte devido a uma misteriosa fraqueza no dedo central da mão direita (infeliz coincidência que salvaguardo, atendendo aos relatos da cultura e boa formação que Schumann possuiria... aos 21 anos de idade), que teria contraído pela prática particular de exercícios, que teoricamente aumentariam a tão desejada independência do dedo em questão.
Após tomar conhecimento da irreversibilidade desta limitação, voltar-se-á para o violoncelo em 1932, como aliás escreveria à sua mãe em Novembro desse ano, informando-a resignado: "Irei voltar ao estudo do violoncelo (que só requer a mão esquerda), será muito útil para a composição de sinfonias." (afirmação aparentemente demasiado simplista, esta da mão esquerda, o que indiciaria, porventura, a também ausência duma impressão visível no mundo concertístico do violoncelo... já o uso da pena, esse sim, seria marcante para a humanidade!).
O ano de 1850 começaria com Robert a acompanhar a sua esposa Clara (a concertista de renome da família) numa tournée de concertos, seguir-se-ia, em Junho, a produção da sua opera "Genoveva", em Leipzig (com pouca receptividade, diga-se) e a mudança da família de Dresden para Dusseldorf (que habitaria nos próximos 5 anos), onde desempenharia a posição de director de música daquela cidade durante 3 anos (viria a ser afastado do cargo em Outubro de 1853, por alegadas incompetências na direcção da orquestra local). O seu concerto para violoncelo (que apelidaria de "Peça de concerto p/ violoncelo com acompanhamento orquestral", explicado, em parte, pelo balanço perfeito entre solista e orquestra), seria composto durante 2 semanas, em Outubro de 1850, já em Dusseldorf. Escrito no coração do Romantismo, ficaria conhecido por não empregar uma escrita excessivamente virtuosística, aliado à não sobreposição da orquestra em momento algum. Um concerto "Sereno" (como adjectivaria Schumann...) que apresenta uma paixão impetuosa (a sua...) e uma alta temperatura emocional (a sua...), apesar de ser baseado numa concepção estrita e coerentemente formal (razão pela qual não será de estranhar, a fama que viria a ganhar em auditórios um pouco por todo o mundo). Teria sido escrito a pensar em Christian Reimers, violoncelista da Orquestra de Dusseldorf, que o terá ensaiado em Março de 1851, mas não resultando em apresentação, seguindo-se o violoncelista Emil Bockmuhl da Orquestra de Frankfurt, em Dezembro de 1852, e o mesmo resultado.
Em 1854, no ano em que a Editora Breitkopf & Hartel publicaria a sua "Peça de concerto...", a vida de Robert Schumann toma um trágico revés: depois da tentativa de suicídio nas águas do Reno em Fevereiro, seria encarcerado num asilo em Endenich, perto de Bona, onde viria a falecer em 1856.
A aguardada estreia da obra ocorrerá 4 anos após a sua morte, a 9 de Junho de 1860, pelo violoncelista Ludwig Ebert e a Orquestra do Conservatório de Leipzig, mas só alcançará um lugar firme no reportório para violoncelo, devido à apaixonada advocacia de Pablo Casals, que em algum momento da sua vida terá dito "Do principio ao fim esta música é sublime." (ao que acrescento, igualmente: e por Gilhermina Suggia, incontornável nome do violoncelo do séc. XX, que o terá interpretado por diversas vezes também).
Foi uma crueldade da história, o facto de não ter permitido que Robert testemunhasse (de forma terrena...), a estreia do primeiro concerto p/ violoncelo a ter algum significado no séc. XIX (e também o único até ao 1º de Saint-Saens, em 1872), o seu... aquele que teria a eleição de um dos maiores violoncelistas que o mundo conheceu, Mstislav Rostropovich.
Boa João!

Nuno Oliveira




"Concerto p/ violoncelo, em lá menor, op. 129"


Extractos que proponho para audição: (nota: ver também publicação nº 64)
  • Yo-Yo Ma
  • Symphonie-Orchester des Bayerischen Rundfunks
  • Colin Davis
  • Sony, SK 42663
"o belo": todo o concerto (andamentos sem paragens), [I-III] [youtube]
                I: Violoncelo e tutti (... tudo dito e explicado, num romantismo mais lirismo
                           igual a Ma!) [youtube]
                II: Violoncelo e tutti (...na "fimbria do mar"...) [youtube]
                III: Violoncelo e tutti (...a mudança de humor que se impunha.) [youtube]





 
  • Mischa Maisky
  • Orpheus Chamber Orchestra
  • Deutsche Grammophon, 469 524-2 GH
"o belo": (...por outro lado... Maisky...) I [youtube], II [youtube], III [youtube]





 
  • Heinrich Schiff
  • Berliner Philharmoniker
  • Bernard Haitink
  • Philips, 422 414-2 PH
"o belo": (O maravilhoso testemunho de Schiff.) I [youtube], II [youtube], III [youtube]





 
  • Lynn Harrell
  • Cleveland Orchestra
  • Neville Marriner
  • Decca, 410 019-2 DH
"o belo": (A visão pessoal de Harrell e o poder sonoro da orquestra de Cleveland.)
                I [youtube], II [youtube], III [youtube]





 
  
Outras sugestões:
  • Arto Noras/Sakari Oramo/Finnish Radio Symphony Orchestra/Finlandia, 4509-98886-2 (Sentimentos quentes vindos da Finlândia de Arto Noras.) I [youtube], II [youtube], III [youtube]




  • Natalia Gutman/Claudio Abbado/Mahler Chamber Orchestra/Deutsche Grammophon, 476 5786 GH (Ao vivo, de Natalia para o Mundo.) I [youtube], II [youtube], III [youtube]


 



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Robert e Clara Schumann [c1850]




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Sim!



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