15. Stravinsky: O Pássaro de fogo |
Um "Pássaro de fogo" e o início do desalinhamento cósmico de Igor Stravinsky, que dançava de forma infernal... só que ainda ninguém sabia...
Para o meu amigo Júlio Sousa, um menino da minha aldeia que uma vez vi sair do fosso do São Carlos... com um trombone baixo às costas (depois da récita... naturalmente).
(...e à memória de uma noite no Coliseu de Lisboa, na companhia do Pássaro de Fogo, Valery Gergiev e da Orquestra do Teatro Mariinsky de São Petersburgo [em 17-01-2009])
Igor Stravinsky nasceu Russo, na localidade de Oranienbaum, próximo de São Petersburgo (se bem que na Rússia, o conceito de proximidade deverá ser interpretado com a cautelosa relatividade, o que me leva a referir a existência de uma similaridade entre o Igor e o Albert, o autor da teoria com essa designação, uma vez que ambos viriam a revolucionar o mundo, cada um na sua especialidade, exactamente a partir do momento em que começaram a relativizar determinadas criticas, e não mais importante, a questionar determinadas tradições... perdoem-me o desvio...), em 1882, e depois de ter sido Suíço e Francês, viria a falecer Norte-Americano, na cidade de Nova Iorque, em 1971 (sendo no entanto possível de admitir com razoável probabilidade, que a famosa alma russa tenha eventualmente permanecido imaculada... atendendo aos repetidos apertos de mão que terá dado a Nikita Khruchtchev na última década de vida).
O nascimento do bailado "O Pássaro de fogo", entorno do conceito da regeneração ao estilo de uma Fénix encantada, se não fosse inevitável teria que ter sido obrigatório numa Rússia do virar do século, onde a vontade de criar um estilo nacionalista, em ruptura com as antigas tradições russas, se impunha. Esta razão justificará, em certa medida, a escolha do tema por Sergei Diaghilev, para a criação de um bailado que estreasse nos seus "Ballets Russes"... em Paris (...tal seria a insuficiência de apertos de mão, suponho). Já mais difícil de justificar teria sido a escolha do jovem desconhecido Igor Stravinsky para seu compositor, a não ser devido às duas anteriores recusas, primeiro por Tcherepnin, depois por Lyadov, aparentemente pelos respectivos desinteresses em histórias de carácter fantasioso, o que neste caso permitirá dizer com razoável acerto, que a sua perda foi o nosso ganho (subentenda-se: humanidade).
Um Stravinsky, também ele de alguma forma, regenerado a partir das cores sensuais duma Scheherazade do seu professor Rimsky-Korsakov, e das deslumbrantes canções diatónicas do folclore russo ao estilo de Glinka, iniciará a partitura em Novembro de 1909, em São Petersburgo, o que denota particular confiança no empregador visto que a confirmação do pagamento dos 1000 rublos acordados só chegaria em Dezembro... (o que face à oportunidade, me suscitará dizer que à semelhança do que frequentemente, e infelizmente, ainda acontece nalguns daqueles que criam, o sr. Stravinsky também fiou...), sendo que a terá terminado seis meses depois, em Maio de 1910, na mesma cidade. A história do Pássaro de Fogo, que seria adaptada dum icónico conto popular russo pelo bailarino Michel Fokine (que também a terá coreografado e dançado o papel masculino principal na estreia... um homem do renascimento, portanto), narra a aventura do Príncipe Ivan, que descobre um pássaro com poderes mágicos que lhe promete ir em sua ajuda em caso de perigo, o que acontecerá quando Ivan descobre 13 (para eventualmente acrescentar alguma sorte à estreia...) jovens princesas aprisionadas por um maléfico feiticeiro (e aparentemente horrendo, visto tratar-se de um ogre, que serão seres de escassa beleza exterior... do meu ponto de vista estético, mas que poderá ser discutível...), que serão libertadas aproveitando o adormecimento do vilão Kastchei à conta dos poderes mágicos da canção de embalar, interpretada pelo místico pássaro (...a fazer lembrar algum Scriabin).
Stravinsky viajará de São Petersburgo para Paris em Junho de 1910, e após uma semana de ensaios apenas (...daí porventura o 13), o bailado é estreado a 25 de Junho, na 5ª Saison Russe da Ópera de Paris, pelo maestro Gabriel Pierné e Karsavina (a primeira Pássaro de Fogo), resultando num elevado sucesso, o que lhe garantiu as futuras encomendas de "Petrushka" e "A Sagração da Primavera", bem como o abraço de Claude Debussy na noite da estreia... com o aparente pressentimento de passagem de testemunho a um merecido sucessor, e o fim da amizade entre o aprendiz e rebelde Stravinsky e o professor e primado académico Rimsky-Korsakov... devido à alegada "excessiva modernidade" do aluno (pois não se pode agradar a todos...).
Marcante essa semana de Paris, com ensaios frenéticos e jantares com os amigos Diaghilev e Nijinsky (que não terá dançado na estreia, mas era um Amigo), sempre acompanhados por um bom Claret!... parecia intenso, mas o turbilhão só teria começado...
"O Pássaro de Fogo"
✨ Extractos que proponho para audição: (ver também publicação nº 59)
[IV]: Dança do Pássaro de Fogo - tutti (... mágico alado!) [youtube]
[IX]: Dança das princesas - tutti (...a melancolia da clausura...) [youtube]
[XIII]: Dança infernal de Kastchei - tutti (...e foi aqui que a corda da tradição partiu
e o verniz dum primado estalou...) [youtube]
[XIV]: Canção de embalar - tutti (...adormeço e sonho debaixo do doce embalo...
pensou Kastchei...) [youtube]
[XV]: Colapso do palácio e dos encantamentos - trompa e tutti (...a victória do bem
sobre o mal... até novas aventuras!) [youtube]
✰ Outras sugestões:
(...e à memória de uma noite no Coliseu de Lisboa, na companhia do Pássaro de Fogo, Valery Gergiev e da Orquestra do Teatro Mariinsky de São Petersburgo [em 17-01-2009])
Igor Stravinsky nasceu Russo, na localidade de Oranienbaum, próximo de São Petersburgo (se bem que na Rússia, o conceito de proximidade deverá ser interpretado com a cautelosa relatividade, o que me leva a referir a existência de uma similaridade entre o Igor e o Albert, o autor da teoria com essa designação, uma vez que ambos viriam a revolucionar o mundo, cada um na sua especialidade, exactamente a partir do momento em que começaram a relativizar determinadas criticas, e não mais importante, a questionar determinadas tradições... perdoem-me o desvio...), em 1882, e depois de ter sido Suíço e Francês, viria a falecer Norte-Americano, na cidade de Nova Iorque, em 1971 (sendo no entanto possível de admitir com razoável probabilidade, que a famosa alma russa tenha eventualmente permanecido imaculada... atendendo aos repetidos apertos de mão que terá dado a Nikita Khruchtchev na última década de vida).
O nascimento do bailado "O Pássaro de fogo", entorno do conceito da regeneração ao estilo de uma Fénix encantada, se não fosse inevitável teria que ter sido obrigatório numa Rússia do virar do século, onde a vontade de criar um estilo nacionalista, em ruptura com as antigas tradições russas, se impunha. Esta razão justificará, em certa medida, a escolha do tema por Sergei Diaghilev, para a criação de um bailado que estreasse nos seus "Ballets Russes"... em Paris (...tal seria a insuficiência de apertos de mão, suponho). Já mais difícil de justificar teria sido a escolha do jovem desconhecido Igor Stravinsky para seu compositor, a não ser devido às duas anteriores recusas, primeiro por Tcherepnin, depois por Lyadov, aparentemente pelos respectivos desinteresses em histórias de carácter fantasioso, o que neste caso permitirá dizer com razoável acerto, que a sua perda foi o nosso ganho (subentenda-se: humanidade).
Um Stravinsky, também ele de alguma forma, regenerado a partir das cores sensuais duma Scheherazade do seu professor Rimsky-Korsakov, e das deslumbrantes canções diatónicas do folclore russo ao estilo de Glinka, iniciará a partitura em Novembro de 1909, em São Petersburgo, o que denota particular confiança no empregador visto que a confirmação do pagamento dos 1000 rublos acordados só chegaria em Dezembro... (o que face à oportunidade, me suscitará dizer que à semelhança do que frequentemente, e infelizmente, ainda acontece nalguns daqueles que criam, o sr. Stravinsky também fiou...), sendo que a terá terminado seis meses depois, em Maio de 1910, na mesma cidade. A história do Pássaro de Fogo, que seria adaptada dum icónico conto popular russo pelo bailarino Michel Fokine (que também a terá coreografado e dançado o papel masculino principal na estreia... um homem do renascimento, portanto), narra a aventura do Príncipe Ivan, que descobre um pássaro com poderes mágicos que lhe promete ir em sua ajuda em caso de perigo, o que acontecerá quando Ivan descobre 13 (para eventualmente acrescentar alguma sorte à estreia...) jovens princesas aprisionadas por um maléfico feiticeiro (e aparentemente horrendo, visto tratar-se de um ogre, que serão seres de escassa beleza exterior... do meu ponto de vista estético, mas que poderá ser discutível...), que serão libertadas aproveitando o adormecimento do vilão Kastchei à conta dos poderes mágicos da canção de embalar, interpretada pelo místico pássaro (...a fazer lembrar algum Scriabin).
Stravinsky viajará de São Petersburgo para Paris em Junho de 1910, e após uma semana de ensaios apenas (...daí porventura o 13), o bailado é estreado a 25 de Junho, na 5ª Saison Russe da Ópera de Paris, pelo maestro Gabriel Pierné e Karsavina (a primeira Pássaro de Fogo), resultando num elevado sucesso, o que lhe garantiu as futuras encomendas de "Petrushka" e "A Sagração da Primavera", bem como o abraço de Claude Debussy na noite da estreia... com o aparente pressentimento de passagem de testemunho a um merecido sucessor, e o fim da amizade entre o aprendiz e rebelde Stravinsky e o professor e primado académico Rimsky-Korsakov... devido à alegada "excessiva modernidade" do aluno (pois não se pode agradar a todos...).
Marcante essa semana de Paris, com ensaios frenéticos e jantares com os amigos Diaghilev e Nijinsky (que não terá dançado na estreia, mas era um Amigo), sempre acompanhados por um bom Claret!... parecia intenso, mas o turbilhão só teria começado...
Nuno Oliveira
"O Pássaro de Fogo"
✨ Extractos que proponho para audição: (ver também publicação nº 59)
- Kirov Orchestra, St Petersburg
- Valery Gergiev
- Philips, 446 715-2 PH
[IV]: Dança do Pássaro de Fogo - tutti (... mágico alado!) [youtube]
[IX]: Dança das princesas - tutti (...a melancolia da clausura...) [youtube]
[XIII]: Dança infernal de Kastchei - tutti (...e foi aqui que a corda da tradição partiu
e o verniz dum primado estalou...) [youtube]
[XIV]: Canção de embalar - tutti (...adormeço e sonho debaixo do doce embalo...
pensou Kastchei...) [youtube]
[XV]: Colapso do palácio e dos encantamentos - trompa e tutti (...a victória do bem
sobre o mal... até novas aventuras!) [youtube]
- City of Birmingham Symphony Orchestra
- Simon Rattle
- EMI, CDC 7 49178 2
- Orchestre Symphonique de Montréal
- Charles Dutoit
- London, 414 409-2 LH
- Orchestre de L'Opéra Bastille
- Myung-Whun Chung
- Deutsche Grammophon, 437 818-2 GH (suite de 1919)
- New York Philharmonic
- Leonard Bernstein
- CBS, MYK 42540 (suite de 1919)
- Gerard Schwarz/Seattle Symphony/Delos, DE 3702, [I-XV] [youtube]
- Carlo Maria Giulini/Royal Concertgebouw Orchestra/Sony, SK 45935 (suite de 1919)[XIII] [youtube], [XV] [youtube]
- Seiji Ozawa/Boston Symphony Orchestra/EMI, CDC 7 47017 2, [I] [youtube], [IV] [youtube], [IX] [youtube], [XIII] [youtube], [XIV] [youtube], [XV] [youtube]
- Iván Fischer/Budapest Festival Orchestra/Hungaroton, HCD 31095 (suite de 1919) IV [youtube], IX [youtube], XIII [youtube], XIV [youtube], XV [youtube]
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