16. Rimsky-Korsakov: Scheherazade |
Resultado final que opôs a exótica "Scheherazade" ao marinheiro "Rimsky-Korsakov": (ela enganou) 1 - (ele enganou) 4!?
Para os meus amigos Ricardo Lameiro e Andreia Pereira, um menino e uma menina que fizeram a estreia de um instrumento parecido com uma espécie de... empa (o Ricardo gosta desta obra tanto quanto eu e o orientalismo próprio da Andreia soa-me adequado).
(E à memória dos mais belos solos de fagote d' "O conto do Príncipe Kalendar" que ouvi ao vivo. Foram-me oferecidos pelo sr. Arlindo Santos, da Orquestra Gulbenkian.)
Para os meus amigos Ricardo Lameiro e Andreia Pereira, um menino e uma menina que fizeram a estreia de um instrumento parecido com uma espécie de... empa (o Ricardo gosta desta obra tanto quanto eu e o orientalismo próprio da Andreia soa-me adequado).
(E à memória dos mais belos solos de fagote d' "O conto do Príncipe Kalendar" que ouvi ao vivo. Foram-me oferecidos pelo sr. Arlindo Santos, da Orquestra Gulbenkian.)
Seguindo a tradição familiar, o compositor russo Nicolai Rimsky-Korsakov (1844-1908) integraria o colégio naval de São Petersburgo em Junho de 1856, tendo-lhe sido seguramente atribuída a patente de cadete pelos doze anos de idade que apresentaria por aquela altura, uma idade que porventura não lhe daria a confiança necessária para a aposta no métier da composição, uma actividade pela qual sentia particular fascínio, enquanto que a navegação em alto mar seria familiarmente mais acertada, embora porventura menos fascinante... como se viria a comprovar.
Posteriormente, viria ainda a alcançar o posto de oficial da marinha, ao mesmo tempo que ia compondo em part-time com a devida tutoria do famoso pedagogo Mili Balakirev. Com efeito, por aquela altura a vida do Nicolai poderia ser resumida desta forma: aos comandos do navio durante o dia e aos comandos de tudo o resto durante a noite, o que, com razoável assertividade, poderia ser considerada a existência de uma vida dupla, uma vivência esgotante e eventualmente potenciadora do desaconselhado surgimento de determinadas enfermidades, nomeadamente as do foro cardíaco (ou porventura hepático...), o que felizmente não viria a acontecer já que em 1873 Rimsky-Korsakov renunciaria à sua comissão na marinha para se dedicar exclusivamente à música, iniciando desta forma a vivência de todas as vidas possíveis, aparentemente numa só...
A partir daí, inicia o corte com o autocrático Balakirev, afastando-se de alguma forma do grupo dos cinco compositores nacionalistas do qual fazia parte com Borodin, Mussorgsky, Cui... e o encarregado pela supervisão Balakirev (o famoso "Poderosos Cinco"), começando logo depois a sua carreira de professor no Conservatório de São Petersburgo, alegadamente sem a preparação adequada para o exercício lectivo (seguramente um bom exemplo de que nem sempre um ensino intuitivo, supostamente o fornecido por Balakirev, é sinónimo de ensino qualitativo), sendo inclusivamente conhecida a necessidade que Rimsky-Korsakov teria de estudar na noite da véspera os livros que iria referir na aula da manhã seguinte (sempre um passo à frente este Nicolai... mesmo quando é necessário dar dois passos atrás).
Rimsky-Korsakov começaria cedo a mostrar a sua habilidade de orquestrador, no sentido em que escolheria os melhores timbres, os aplicaria de forma acertada e os adequaria na perfeição às necessidades expressivas como uma espécie de tapeçaria de sons. Este seu talento, aliado à motivação extra traziada pela música de Hector Berlioz, leva-lo-iam a escrever o seu famoso livro de "Princípios de Orquestração" a partir de 1873.
No inverno de 1887, numa época de fecunda inspiração, Rimsky-Korsakov tem a ideia de compor uma obra orquestral inspirada no conto árabe das "Mil e uma Noites" compilado pelo académico Ibn En-Nadim. Esta ideia amadureceria durante a primavera seguinte, vindo Scheherazade a nascer para o mundo durante as férias de verão passadas nas margens calmas do lago Cherementz, umas águas porventura indutoras de um extraordinário relaxamento, já que desse parto sairiam também a "Abertura Grande Páscoa Russa" e a "Mazurca Polaca para violino e orquestra".
Rimsky-Korsakov começaria cedo a mostrar a sua habilidade de orquestrador, no sentido em que escolheria os melhores timbres, os aplicaria de forma acertada e os adequaria na perfeição às necessidades expressivas como uma espécie de tapeçaria de sons. Este seu talento, aliado à motivação extra traziada pela música de Hector Berlioz, leva-lo-iam a escrever o seu famoso livro de "Princípios de Orquestração" a partir de 1873.
No inverno de 1887, numa época de fecunda inspiração, Rimsky-Korsakov tem a ideia de compor uma obra orquestral inspirada no conto árabe das "Mil e uma Noites" compilado pelo académico Ibn En-Nadim. Esta ideia amadureceria durante a primavera seguinte, vindo Scheherazade a nascer para o mundo durante as férias de verão passadas nas margens calmas do lago Cherementz, umas águas porventura indutoras de um extraordinário relaxamento, já que desse parto sairiam também a "Abertura Grande Páscoa Russa" e a "Mazurca Polaca para violino e orquestra".
Scheherazade conta a história do Sultão Shahriar, que desiludido com a duplicidade e infidelidade femininas resolve matar cada uma das suas esposas após a primeira noite. No entanto, a Sultana Scheherazade salva a sua própria vida através do interesse que transmite ao esposo para as histórias poéticas de aventuras que conta durante mil e uma noites, prolongando assim a sua existência e adiando a fatídica execução dia após dia. Nesse sentido, Rimsky-Korsakov utilizaria o leitmotiv Wagneriano, mas de forma caleidoscópica de modo a deixar a impressão de uma narrativa oriental de histórias de encantar (permitindo-nos notar com alguma segurança também, que ao corte com a tradição germânica e à criação de uma música inspirada no folclore russo, pedidos pelos seus quatro companheiros de irmandade, o nosso Nicolai responderia com o leitmotiv, o colorido orquestral e o interesse francês pelo exótico, juntando-lhe ainda o folclore da antiga Pérsia!).
A obra apresentaria quatro... quadros: "O mar e o navio de Sinbad" [1], que retracta a história dum mercador que pela sua fantástica sorte transforma todo o desastre numa oportunidade de aventuras e prosperidade (e ainda bem, porque a vontade de aplicação deste comportamento deverá ser considerada por todos de vital importância, particularmente neste momento da história... De forma modesta, tenho-me sentido também um pouco Sinbad por estes dias...); "O conto do Príncipe Kalendar" [2], que narra as aventuras do filho de um rei que na procura de sabedoria se disfarça de vagabundo; "O Jovem Príncipe e a Jovem Princesa" [3], aqui sem que Rimsky-Korsakov divulgasse o conto da sua inspiração, supondo-se, no entanto, que se trataria da história de amor entre Aladino e a princesa Badur; e "Festival de Bagdad, o mar, naufrágio num rochedo rodeado por um guerreiro de bronze e conclusão" [4], com as suas cenas de aventura e onde se ouviriam algumas melodias dos quadros anteriores.
O amigo e musicólogo Vladimir Stassov seria o honrado dedicatário, Scheherazade estrearia com enorme sucesso a 9 de Novembro de 1888 em Leipzig, pela mão do seu criador, e nunca mais deixaria de ser ouvida... em Debussy, Ravel, Stravinsky, Resphigi...
"Scheherazade, op. 35"
✨ Extractos que proponho para audição:
I: tutti, violino (belíssimos solos de violino, sonoridade fabulosa nos tuttis) [youtube]
II: tutti, e solos de violino, fagote e oboé (0:38, 7:52), clarinete (5:06), flauta e trompa
(11:12) (...o fagote mágico... parte 1...e um final apoteótico) [youtube]
III: tutti (excelência e máxima expressividade para quem gosta de histórias de amor)
[youtube]
IV: tutti, violino (...sonoridade grandiosa e violino soberbo, com o sentido do dever
cumprido... Até amanhã... Shahriar...) [youtube]
A obra apresentaria quatro... quadros: "O mar e o navio de Sinbad" [1], que retracta a história dum mercador que pela sua fantástica sorte transforma todo o desastre numa oportunidade de aventuras e prosperidade (e ainda bem, porque a vontade de aplicação deste comportamento deverá ser considerada por todos de vital importância, particularmente neste momento da história... De forma modesta, tenho-me sentido também um pouco Sinbad por estes dias...); "O conto do Príncipe Kalendar" [2], que narra as aventuras do filho de um rei que na procura de sabedoria se disfarça de vagabundo; "O Jovem Príncipe e a Jovem Princesa" [3], aqui sem que Rimsky-Korsakov divulgasse o conto da sua inspiração, supondo-se, no entanto, que se trataria da história de amor entre Aladino e a princesa Badur; e "Festival de Bagdad, o mar, naufrágio num rochedo rodeado por um guerreiro de bronze e conclusão" [4], com as suas cenas de aventura e onde se ouviriam algumas melodias dos quadros anteriores.
O amigo e musicólogo Vladimir Stassov seria o honrado dedicatário, Scheherazade estrearia com enorme sucesso a 9 de Novembro de 1888 em Leipzig, pela mão do seu criador, e nunca mais deixaria de ser ouvida... em Debussy, Ravel, Stravinsky, Resphigi...
Nuno Oliveira
"Scheherazade, op. 35"
✨ Extractos que proponho para audição:
- New York Philharmonic
- Yuri Temirkanov
- RCA, 09026-61173-2
I: tutti, violino (belíssimos solos de violino, sonoridade fabulosa nos tuttis) [youtube]
II: tutti, e solos de violino, fagote e oboé (0:38, 7:52), clarinete (5:06), flauta e trompa
(11:12) (...o fagote mágico... parte 1...e um final apoteótico) [youtube]
III: tutti (excelência e máxima expressividade para quem gosta de histórias de amor)
[youtube]
IV: tutti, violino (...sonoridade grandiosa e violino soberbo, com o sentido do dever
cumprido... Até amanhã... Shahriar...) [youtube]
- London Symphony Orchestra
- Charles Mackerras
- Telarc, CD-80208
com a história romântica a ser contada de forma profunda. Um registo icónico
e uma das principais referências discográficas da obra. Imperdível.
I [youtube], II [youtube], III [youtube], IV [youtube]
III [youtube], IV [youtube]
✰ Outras sugestões:
- Israel Philharmonic Orchestra
- Zubin Mehta
- CBS, MK 44559
da simplicidade interpretativa. Um registo onde o mistério é encarado com leveza
e os solistas brilham de forma intensa. Não estava à espera de encontrar uma
gravação de que gostasse tanto aqui, mas a verdade é que a encontrei.
I [youtube], II [youtube], III [youtube], IV [youtube]
- Philharmonia Orchestra
- Emmanuel Krivine
- Denon, CO-77068
madeiras e violoncelo solistas, violino solo de topo. Em síntese, um registo
repleto de força, mas também de intimismo e sensualidade. Boa surpresa.
Magnífica escolha.
- New York Philharmonic
- Kurt Masur
- Teldec, 0630-17125-2
III [youtube], IV [youtube]
- Scottish National Orchestra
- Neeme Järvi
- Chandos, CHAN 8479
clarinete luxuriante e um violino a acabar a história que deixa vontade
de ouvir mais. Excelente escolha.
- Orchestre Symphonique de Montréal
- Charles Dutoit
- Decca, 410 253-2 DH
- Philadelphia Orchestra
- Riccardo Muti
- EMI, CDC 7 47023 2
- Royal Concertgebouw Orchestra
- Riccardo Chailly
- Decca, 443 703-2 DH
- Vladimir Ashkenazy/Philharmonia Orchestra/Decca, 417 301-2 DH [youtube] [youtube] [youtube] [youtube]
- Thomas Beecham/Royal Philharmonic Orchestra/EMI, CDC 7 47717 2 [youtube] [youtube] [youtube] [youtube]
- Loris Tjeknavorian/Armenian Philharmonic Orchestra/ASV, CD DCA 771 [youtube]
- Daniel Barenboim/Chicago Symphony Orchestra/Erato, 4509-91717- 2 [youtube] [youtube] [youtube] [youtube]
- Lorin Maazel/Berliner Philharmoniker/Deutsche Grammophon, 415 512-2 GH [youtube] [youtube] [youtube] [youtube]
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Os artistas em foto artística
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