quarta-feira, 29 de dezembro de 2021


64. Schumann: sinfonia nº 2 |

A "Sinfonia nº 2" como o retrato do espírito quixotesco de Robert Schumann que nos fala ao coração.






Para os meus padrinhos das encostas do Águeda.
Por ampararem a minha história.






O colapso nervoso ocorrido no Verão de 1844 marcaria para sempre a trágica vida do compositor alemão Robert Schumann (1810 - 1856). Com efeito, este acontecimento traumático estaria na origem dos sérios problemas profissionais e da consequente miséria pessoal que o levariam a decidir mudar de Leipzig para Dresden, cidade a que chegaria em Outubro de 1844 e onde recomeçaria gradualmente a recuperar a saúde, culminando na composição da sua segunda sinfonia entre Dezembro de 1845 e Outubro de 1846 (que em termos cronológicos teria sido, na realidade, a sua terceira sinfonia, uma vez que a obra conhecida hoje como a sua quarta sinfonia teria sido escrita depois da nº 1, "Primavera", tendo sido revista e publicada posteriormente, em 1851, como a sua nº 4; a última sinfonia que escreveria seria realmente a nº 3, "Renana" em 1850).
A estreia desta sua Sinfonia nº 2, em dó maior, op. 61, viria a acontecer a 5 de Novembro de 1846 na mítica Gewandhaus de Leipzig com a direcção de Felix Mendelssohn, o maestro mais famoso daquele tempo, mas sem trazer o sucesso que o compositor esperava. Já algumas semanas mais tarde, porém, a obra receberia uma recepção mais entusiástica numa reapresentação realizada no mesmo local (que continuaria lendário) e pelos mesmos protagonistas (que se manteriam igualmente virtuosos), suspeitando-se, neste caso, que o motivo diferenciador da apreciação original teriam sido as correcções, ou melhor, modificações levadas a cabo pelo autor (...à semelhança do que diria alguns anos antes o igualmente trágico, Antoine de Lavoisier, de que na natureza nada se perderia, tudo se transformaria, entendo igualmente elegante considerar que a genialidade não se corrige... modifica-se), entre as quais se poderiam encontrar a inclusão de três trombones nos primeiro e quarto andamentos. Ora toda a gente sabe, ou pelo menos desconfia, que os trombones nunca são demais para os românticos (os que vivenciam o romantismo, a corrente artística quero dizer...), e teria sido eventualmente também por essa razão, que o número de aplausos teria aparentemente subido nessa segunda audição.
Schumann escreveria esta sinfonia na sombra da fatídica doença mental que por aquela altura já se tornaria evidente após os vários episódios depressivos ocorridos (pressagiando já o final trágico aos 46 anos de idade; por coincidência a minha). De forma consciente, viria a escrever naquela época: "Eu rascunhei-a enquanto tinha ainda muito pouca saúde. De facto, posso dizer que foi a minha resistência mental, da maneira que estava, que teve aqui visível influência, e esta foi a minha maneira de tentar lutar contra a doença". Este relato permite-nos, assim, compreender o contexto biográfico na criação desta obra-prima e as ideias poéticas em que se inspirou, como são o desafio perante a adversidade e a atitude positiva como garante da vitória final.
A obra é composta pelos quatro andamentos tradicionais. Abre [I] com um "coral" nos metais, misterioso e ao mesmo tempo revelador da semente temática a partir da qual toda a sinfonia é desenvolvida, ao qual se segue um Scherzo [II] em cinco partes. O sublime Adagio espressivo [III] surge depois, com a sua melancolia e caracter fortemente emocional; sem dúvida um ícone d"o belo" romantismo. O quarto andamento, Allegro molto vivace [IV], viria a seguir e com ele a força da mensagem de que a vida merece ser vivida em triunfo, representada através do colorido da instrumentação e do final apoteótico.
A razão que levou Schumann a colocar o andamento lento depois do Scherzo não é clara à primeira vista e, no entanto, torna-se decisiva. A batalha do compositor com a sua própria instabilidade mental reflecte-se na música, na escuridão do terceiro andamento como reacção profunda ao incansável e preocupado Robert dos ritmos obsessivos do primeiro andamento e do fervor do segundo, enquanto não chega transfigurada no segundo tema daquela vitória difícil de alcançar, do quarto andamento final. Esta característica serviria ainda de inspiração a outros compositores, levando inclusive Gustav Mahler (admirador confesso das sinfonias de Schumann como se pode constatar nas propostas em baixo) a fazer o mesmo com o Adagietto e o Finale da sua quinta sinfonia.
Incompreensivelmente (pelo menos para mim...), esta sua segunda sinfonia (...a que mais gosto) tornar-se-ia menos conhecida que as restantes três que escreveu, sendo por isso menos vezes apresentada, o que lhe conferiria algum estatuto de "Patinho feio" das sinfonias de Schumann. Talvez tivesse ficado mais conhecida e, também por essa razão, sido mais apreciada (porque, entendo eu, depois de a conhecermos só nos resta apreciá-la... mas, como é claro, sou suspeito nesta afirmação), acaso Schumann se tivesse lembrado também de atribuir um apelido do género "Primavera" ou "Renana"...
A impressão digital de uma história de vida que nos fala ao coração a cada compasso...
...teria seguramente ficado bem como: Sinfonia nº 2, em dó maior, op. 61, "Discursiva".  

   
Nuno Oliveira





"Sinfonia nº 2, em dó maior, op. 61"


✨ Extractos que proponho para audição: (nota: ver também publicação nº 20)
  • Philharmonia Orchestra
  • Christian Thielemann
  • Deutsche Grammophon, 453 482-2 GH
"o belo": o 3º andamento, Adagio espressivo, sobressai nesta obra (Visão arrebatadora
                e repleta de expressividade. Este 3º and. destaca-se pela interpretação que todos
                os ícones do romantismo merecem. Glorioso e absolutamente imperdível!),
                com alguns destaques, identificados a seguir;
                [I]: tutti, aos 0:00-1:24 (As "dinâmicas" de um mistério...) [youtube]
                [II]: tutti (Pensamentos irrequietos...) [youtube]
                [III]: "o belo" Adagio espressivo (...e o sublime que é "o belo" dentro d"o belo",
                desenhado pelo mestre Thielemann aos 3:53-5:06 e 8:57-10:08![youtube]
                [IV]: tutti (Vitória e apoteose final!) [youtube]






  • Staatskapelle Dresden
  • Wolfgang Sawallisch
  • EMI, CDM 7 69472 2
"o belo": (A referência que dominou o catálogo durante anos. Frescura, vigor,
                espontaneidade e sentimento proporcionais ao real significado da música.
                O testemunho do mestre Sawallisch e a excelência dos músicos da Dresden
                de Schumann que não podemos perder.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • Symphonie-Orchester des Bayerischen Rundfunks
  • Rafael Kubelik
  • Sony, SBK 48269
"o belo": (Vitalidade, brilho e sensibilidade num registo de referência por Kubelik
                e a orquestra bávara, gravado na Hercules-Saal de Munique a 19 de Maio
                de 1979 - uma data que me toca particularmente... De primeira linha e a
                não perder também.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • Wiener Philharmoniker
  • Giuseppe Sinopoli
  • Deutsche Grammophon, 459 049-2 GCC
"o belo": (A compreensão da obra pelo olhar atento do mestre Sinopoli.
                Expressividade e magnetismo habituais, numa excelente escolha
                a ter em conta.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • Chamber Orchestra of Europe
  • Nikolaus Harnoncourt
  • Teldec, 4509-98320-2
"o belo": (Interpretação bem reflectida, com o mestre Harnoncourt a oferecer-nos
                alguns pormenores pessoais deliciosos. Sonoridade doce e madura como a
                COE já nos habituou. Os exageros românticos são poucos, mas mesmo assim
                valem a pena.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]











  • Orchestre des Champs Elysées
  • Philippe Herreweghe
  • Harmonia Mundi, HMC 901555
"o belo": (Sonoridade leve e visão discreta, mas com alguns detalhes que nos
                surpreendem. Uma interpretação para os que elegem o lirismo ao
                dramatismo. Escolha de qualidade.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • London Philharmonic Orchestra
  • Kurt Masur
  • Teldec, 2292-46446-2
"o belo": (Sonoridade exuberante e interpretação directa. Uma boa opção
                para os que preferem uma abordagem mais racional da obra.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]





  
   
✰ Outras sugestões:
  • Riccardo Chailly/Gewandhausorchester/Decca, 475 8352 DH (Presenças instrumentais e dinâmicas retocadas por Mahler, num manuscrito a descobrir.)  [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]




  • Franz Welser-Möst/The London Philharmonic/EMI, CDC 7 54898 2 (A interpretação de um jovem Welser-Möst no início dos anos 90.), [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]




  • Neville Marriner/Radio-Sinfonieorchester Stuttgart/Capriccio, 10 094 (O lirismo em destaque numa interpretação entre a Inglaterra e a Alemanha.), [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






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Robert Schumann [1839]




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Colo e amparo [nos finais dos anos 70]



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domingo, 28 de novembro de 2021


63. Sibelius: concerto p/ violino |

O concerto do violino de Jean Sibelius e as saudades da infância de um sinfonista de Hämeenlinna.  






Para a comadre Carla Passos.
Lugares remotos, desportos de inverno e um violino... Concerto de Sibelius.






Embora a maioria dos grandes sinfonistas do séc. XIX fossem pianistas, o finlandês Jean Sibelius (1865, Hämeenlinna - 1957, Järvenpäa) não o era. Em boa verdade, para os que tocassem o seu intensamente idiomático concerto para violino, Jean só poderia ser um dos seus. E assim era. O jovem estudante de violino em Viena e activo do quarteto de cordas do Conservatório daquela cidade, chegaria inclusive a julgar-se suficientemente talentoso para idealizar uma carreira a solo, ambição da qual o finlandês viria a desistir em 1891, um ano fundamental para a história que nos viria a legar: malfadado porque faria a audição falhada para a Orquestra Filarmónica austríaca, e, ao mesmo tempo, afortunado, visto que reorientaria a sua educação musical para a composição em consequência de tal rejeição... porventura legítima, ou talvez não. No final de contas, e depois de ponderados todos os prós e os contras entre um violino e os múltiplos instrumentos de uma grande orquestra, poderemos inclusivamente sentir que esse terá sido mesmo um ano abençoado, não só para os múltiplos instrumentos (os alvos das sete sinfonias e das muitas outras obras que viria a criar) mas também para os inúmeros seres humanos, instrumentistas variados ou não, mas ouvintes exigentes seguramente.
Na realidade, depois dos seus pais, o violino teria sido a sua primeira adoração, voltando-se para o piano aos cinco anos (!) possivelmente para tentar perceber o quanto teria estado desafinado até então (!). Mais tarde, enquanto intérprete, seria admirado pela pureza de entoação, e mesmo depois de aos trinta e dois anos lhe ter sido oferecida uma pensão para que se concentrasse na composição, continuaria a acolher estudantes de violino como forma de sustento familiar suplementar e, como eu gosto de acreditar, de terapia (justificada, em parte, pelos desafios existentes nesta obra-prima e que a maioria dos violinistas de talento deverão gostar de encontrar... penso eu). 
Neste concerto (escrito entre 1903 e 1905), para além de percebermos o amor infantil pelo instrumento solista (o autor reconheceria, aliás, que o tema principal teria sido "uma ideia inspirada" ocorrida muitos anos antes), podemos também notar o Sibelius, já quadragenário, em busca de refúgio na bebida sempre que as tentativas de mudança do estilo musical lhe colocavam incertezas estéticas ou, pior do que isso, lhe provocavam dúvidas existenciais; sendo também provável que o mesmo já não seria capaz de interpretar o seu próprio concerto por aquela altura, embora seja razoável admitir que ele pudesse ter gostado de o fazer (de facto, alguns anos depois, em 1915, viria a registar uma frase enigmática no seu diário ao mesmo tempo que escrevia a sua sinfonia nº 5 [ver publicação nº 27]: "Sonhei que tinha doze anos e era um violinista virtuoso!").
Por outro lado, o musicólogo finlandês Erik Tawaststjerna forneceria ainda vários detalhes sobre a génese e o caminho labiríntico que o compositor teria percorrido na composição deste concerto, assim como o seu comportamento perante Willy Burmester, o violinista que antes de suceder ao seu mentor Josef Joachim como o maior violinista alemão, teria trabalhado na Finlândia e conhecido o compositor, tendo sido aquele que o encorajaria a escrever esta obra e a quem teria sido prometida a estreia; uma promessa entretanto não honrada devido a considerações de Jean sobre alegadas faltas de autoritarismo nas apresentações do chamado reportório sério pelo violino de Willy, que, ao que parece, daria mais importância à quantidade do que à qualidade das "notas" por aquela altura... (uma característica que a idade viria aparentemente a remediar, sobrepondo-se a qualidade à quantidade com o amadurecimento natural das performances dos mais variados teores artísticos), chegando ao ponto de lhe ter sido, por um lado, retirada pelo compositor a dedicatória após alguns episódios de concertos marcados e indisponibilidades de agenda demonstradas, e, por outro, a recusa do violinista em interpretar esta obra durante toda a sua vida concertística (já o lirismo apelativo aliado a alguns cabelos brancos poderão ter proporcionado algumas audições caseiras... eu, pelo menos, gosto de acreditar que sim).
A partitura seria finalizada no Outono de 1903, cerca de um ano depois da estreia da sua segunda sinfonia [ver publicação nº 43], e seria apresentada pela primeira vez ao público no dia 8 de Fevereiro de 1904, em Helsínquia, pelo violinista Viktor Novácek, concertino da orquestra daquela cidade, e direcção do próprio compositor, com o pouco sucesso que a performance inadequada terá proporcionado, levando Sibelius a reescrevê-lo de imediato, purificando-o e removendo os detalhes desnecessários e os ornamentos supérfluos que impediriam a concretização de uma estrutura coerente.
A sua forma definitiva seria, desta maneira, estreada com boa aceitação a 19 de Outubro de 1905, na Singakademie de Berlim, pela Hofkapelle e o seu concertino, o violinista Karel Halír, todos dirigidos por nem mais nem menos do que o genial Richard Strauss, sendo que, e apesar deste sucesso pontual, o concerto permaneceria como uma peça periférica no reportório para este instrumento, tendo seguramente contribuído para isso os comentários reprovadores do professor Joachim, que para além de olhar pelos seus protégé seria também conhecido por não apreciar a música pós-Brahmsiana (atitude que a sua estreia do concerto para violino de Brahms teria seguramente influenciado...), existindo inclusivamente referências de que o consideraria mesmo "Odiável e aborrecido" (!?...). Com efeito, este magnífico concerto só ficaria para a história após o interesse do violinista russo Leopold Auer, levando-o a ensiná-lo ao seu aluno Jascha Heifetz, tendo este posteriormente persuadido outros violinistas a considerar esta obra no grupo dos grandes concertos para violino (uma influência que podemos rapidamente constatar no testemunho de 1935, proposto em baixo).
A pureza gélida do registo agudo do violino na melodia inesquecível que abre o Allegro Moderato [1] e o embate imediato com as suas sonoridades mais graves, fazem-nos recordar um mergulho em brasa na água gelada de um fiorde finlandês, imergindo de seguida na canção expressiva do Adagio di molto [2], aliviando os contrastes anteriores com um murmúrio intimista de um bosque de abetos, até ao surgimento do comando orquestral no Allegro, ma non tanto [3], uma espécie de Scherzo alla Rondo que viria a ser descrito de forma memorável por Donald Tovey, como uma "evidente Polonaise para ursos polares" (depois do correspondente período de hibernação, suponho eu).                  
Embora tivesse escrito variadas Serenades e Humoresques, este concerto seria o único que Jean Sibelius viria a compor. Disponível desde 1905 nas melhores salas de espectáculo do mundo, este é um concerto verdadeiramente virtuoso; no virtuosismo do brilho da habilidade técnica que conseguimos observar, na virtuosidade dos mistérios das deslumbrantes florestas finlandesas que conseguimos imaginar...
Em ambas a beleza é real. Em todas o olhar é branco.

 
Nuno Oliveira

                          



"Concerto p/ violino em ré menor, op. 47"


✨ Extractos que proponho para audição: (ver também publicações nº 27 e 43)
  • Cho-Liang Lin
  • Philharmonia Orchestra
  • Esa-Pekka Salonen
  • CBS, MK 44548
"o belo": (O magnetismo e a sonoridade gloriosa de Lin num registo de referência
                imbatível. Tudo o que esperamos numa interpretação podemos encontrar 
                aqui. Perfeita e simplesmente imperdível!)
                [1]: violino, aos 0:00-0:55 (O mistério da inspiração num olhar hibernante
                através do gelo da nossa janela...), 4:47-5:10 e 14:38-15:01 ("o belo" que é
                quando o violino é LINdo!); tutti, aos 5:30-5:49 (E chega a vez de Salonen nos
                apanhar de surpresa...) e 13:09-13:30 (... e de uma orquestra que lhe seguiu o
                exemplo!); violino, aos 15:34-15:53 (A sempre complexa ausência de esforço!) [youtube]
                [2]: (Intermezzo de beleza meditativa...) [youtube],
                [3]: (Virtuosismo e apoteose final!) [youtube]






  • Kyung Wha Chung
  • London Symphony Orchestra
  • André Previn
  • Decca, 425 080-2 DM
"o belo": (O detalhe da poesia e a vitalidade controlada numa interpretação de
                especial afinidade a esta música. Tanto sentimento só poderia resultar neste
                marco discográfico da carreira de Chung. Uma maravilha a não perder.)
                [1] [youtube], [2] [youtube], [3] [youtube]






  • Anne-Sophie Mutter
  • Staatskapelle Dresden
  • André Previn
  • Deutsche Grammophon, 447 895-2 GH
"o belo": (Uma interpretação diferente, com um início onde quase se sente a
                respiração fria das florestas finlandesas. Lento meditativo e final poderoso.
                Mutter impressionante, numa excelente escolha a ter em conta também.)
                [1] [youtube], [2] [youtube], [3] [youtube]






  • Nigel Kennedy
  • City of Birmingham Symphony Orchestra
  • Simon Rattle
  • EMI, CDC 7 54127 2
"o belo": (Uma performance inspirada, onde tudo parece fácil para o jovem
                Kennedy. Um par de excelência como só Rattle e Birmingham poderiam
                formar. Um registo de eleição.)
                [1] [youtube], [2] [youtube], [3] [youtube]






  • Maxim Vengerov
  • Chicago Symphony Orchestra
  • Daniel Barenboim
  • Teldec, 0630-13161-2
"o belo": (O virtuosismo inabalável e a bravura da marca registada Vengerov, com
                a habitual sonoridade cósmica da CSO. Uma escolha sentimental e uma
                boa proposta também.)
                [1] [youtube], [2] [youtube], [3] [youtube]






  • Dmitry Sitkovetsky
  • Academy of St. Martin in the Fields
  • Neville Marriner
  • Hänssler, CD 98.353
"o belo": (Interpretação mais serena e aconchegante do que a maioria. O som continua
                 fresco, mas a neve já começa a derreter. Para usufruir ao lume da lareira.)
                [1] [youtube], [2] [youtube], [3] [youtube]






  • Vadim Repin
  • London Symphony Orchestra
  • Emmanuel Krivine
  • Erato, 0927 49553-2
"o belo": (O foco e a pureza sonora numa interpretação refinada do jovem Repin.
                Excelente suporte de Krivine e da magnífica LSO. Uma excelente escolha.)
                [1] [youtube], [2] [youtube], [3] [youtube]





  
   
✰ Outras sugestões:
  • Dylana Jenson/Eugene Ormandy/The Philadelphia Orchestra/RCA, RD84548 (Ternura, elegância e suavidade numa interpretação a descobrir.), [1] [youtube], [2] [youtube], [3] [youtube]




  • Jascha Heifetz/Thomas Beecham/London Philharmonic Orchestra/Naxos, 8.110938 (O registo histórico de 1935 que viria a influenciar futuras gerações de intérpretes. Palavras para quê: o princípio começou aqui.), [1] [youtube], [2] [youtube], [3] [youtube]




  • Gidon Kremer/Gennadi Roshdestvensky/London Symphony Orchestra/RCA, GD 60957 (A versão que Kremer gravou na Aula Magna da Universidade de Salzburgo em 1977. Mais solene e menos místico. Para descobrir.), [1-3] [youtube]





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Jean Sibelius [Ainola, 1905]




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Comadres & compadres [Nazaré, 31-12-1999].




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domingo, 31 de outubro de 2021


62. Beethoven: sinfonia nº 7 |

Ouçamos repetidamente, então, esta "Sinfonia nº 7" de Ludwig van Beethoven, pois "enquanto outras sinfonias existem enquanto obras de arte, a sétima simplesmente é"! [Donald Tovey]






À memória do José Estima e das histórias que me contou entre dois cruzeiros com história.
À memória do Nuno Abrantes e do início da minha história.






Ludwig van Beethoven (1770 - 1827) viveria um dos seus maiores triunfos enquanto compositor a 8 de Dezembro de 1813, no dia em que o seu poema sinfónico "A vitória de Wellington" e a sua "Sinfonia nº 7" se davam a conhecer ao público pela primeira vez no auditório da velha Universidade de Viena, num concerto de beneficência para os feridos da batalha de Hanau e em celebração da derrota das tropas Napoleónicas na batalha de Vitória, ocorrida em Junho desse ano no nordeste de Espanha, a favor da aliança entre os 80.000 corações Ingleses, Espanhóis e Portugueses (mais de 27.000 almas lusitanas) que se encontravam do outro lado da bateria gaulesa de 150 peças de artilharia.   
Apesar da "música de batalha", escrita para impressionar de imediato, ter suscitado maior interesse, a verdade é que aquele auditório reconheceria de igual modo o grande significado da nova sinfonia, o que se reflectiria no entusiasmo mostrado após a audição do segundo andamento da obra, "o belo" Allegretto [II], que, nessa noite, viria a ser bisado após pedido expresso de um público maravilhado com a simplicidade de um ostinado de duzentos e oitenta compassos até um clímax final, único até então. Passados mais de duzentos anos a maravilha persiste... basta olharmos as expressões de admiração das criaturas de Deus que decidem procurar "o belo" por esta sétima.
Voltando um pouco mais atrás, nomeadamente à Primavera de 1812, veríamos Beethoven informar o seu editor de que estaria a escrever: "três novas sinfonias, uma das quais já se encontra acabada". Isto significaria que não apenas as sinfonias números sete e oito, escritas virtualmente ao mesmo tempo, já se encontrariam em processo de finalização, como também a nona, destinada a concluir-se doze anos mais tarde, faria já parte do lote de trabalhos daqueles primeiros anos da segunda década de 1800.
Com efeito, quatro anos teriam passado desde que Beethoven escrevera as suas quinta e sexta sinfonias, autênticas páginas do melhor romantismo musical, criadas num período que o compositor aproveitaria para avançar ao encontro de um terreno estilístico absolutamente novo, numa época "heroica" prestes a terminar e onde alguns anos de prudência e reflexão seriam aconselhados, mesmo obrigatórios. Passada essa fase, Beethoven usaria esses quatro anos seguintes para continuar a derrubar barreiras harmónicas, estendendo a forma, intensificando a expressão subjectiva por trás da ideia e envolvendo os inúmeros temas musicais de forma meticulosa (os seus livros de rascunho carregam o testemunho da sua luta para alcançar a perfeição, tal era a abundância de ideias ao dispor), para chegar a um idioma, sem dúvida pessoal, que para além de único naquela altura, viria também a influenciar de forma extraordinária futuras gerações de compositores.
Por outro lado, se olharmos para a lista dos estilos utilizados na sua sinfonia nº 7, percebemos que o sucesso desta obra não estaria tanto na mestria técnica de composição do "autor", sempre superlativa, mas sobretudo na determinação colossal do "artista", certamente obstinada, em colocar a sua mensagem pessoal na música. Essa mensagem é-nos contada, ou melhor, "cantada", como se a sua "ode à alegria" também existisse aqui, enquanto que os vários ritmos de dança presentes e as sonoridades abertamente optimistas, haveriam ainda de lhe confiar a designação de "apoteose da dança" (Wagner, aparentemente, teria sido o primeiro a chamar-lhe assim, em 1849, e, se assim foi, junto-me aos que entendem que tê-lo-ia feito bem). Outras leituras viriam paralelamente a considerar esta sinfonia como o retracto de um banquete de celebração do Outono ou da época das vindimas, apoiando-se, em particular, num final [IV] que muitos entenderiam como a descrição de um estado de embriaguez (ao que parece, após a primeira apresentação em Leipzig, alguns críticos locais teriam aparentemente vociferado a opinião de que o próprio Beethoven estaria embriagado quando escrevera esse andamento), enquanto que o musicólogo Arnold Schering consideraria ainda esta sinfonia como a versão sonora do romance "Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister", de Goethe, visto que acreditaria que o primeiro andamento representava a "entrada cerimonial das crianças no salão de baile e a Dança de Mignon" [I], o segundo descrevia o "Requiem para Mignon" [II] o terceiro retratava a "dança debaixo da tília" [III], enquanto que o último andamento ilustrava o "banquete da companhia de teatro na sala de Wilhelm" [IV].
Em todo o caso, e considerações variadas à parte, estes quatro andamentos, inscritos na partitura porventura ritmicamente mais excitante e Dionisíaca de Beethoven, seriam dedicados a nenhum outro que ao Conde Moritz von Fries, um banqueiro e patrono das artes vienense, inclusive... o seu.
E assim, o primeiro andamento, Poco sostenuto - Vivace [I], responsável pela alegada declaração de Weber de que Beethoven estaria "Pronto para o hospício!", viria a apresentar a mais longa introdução até então colocada numa sinfonia, fazendo sobressair em maior dimensão o plano de composição da obra; um motivo rítmico seria aqui "destilado", de forma gradual, ao longo dos vários "estágios" de desenvolvimento do andamento, trazendo novos começos, uns atrás dos outros, ao mesmo tempo que o tema principal era "desdobrado" (aparentemente, Baco terá também andado por aqui...). "o belo" Allegretto [II] chegar-nos-ia a seguir, numa procissão marcada pelo lendário acorde, em lá menor, que inspiraria compositores desde Wagner, Liszt, R. Strauss até Mahler, e pela triste redução de uma ideia de paixão heroica, interrompida a espaços pelas "promessas de consolação" (como diria o seu biógrafo Anton Schindler), em lá maior, com o poder que viria a assombrar Schubert durante a maior parte da sua carreira artística. Seguir-lhe-iam, depois, o terceiro andamento, Presto [III], uma dança poderosa com desenvolvimento rítmico "circular" (eventualmente ligado a excessivas influências Báquicas, também), cujo tema principal derivaria supostamente de uma frase da canção popular Irlandesa: "Save me from the Grave and Wise"; e o quarto andamento final, Allegro con brio [IV], com um ritmo "intoxicante", recordando-nos comparações de uma Música luxuriante ao Vinho da vida, e inspirando a humanidade a novos "actos de criação", como se o consumo dos sucos espremidos por aquelas divindades clássicas, fossem elas gregas ou romanas, não nos desse seguramente para isso...
Afinal, as variadas visões que nos ocorrem ao escutarmos esta sétima, mostram como Beethoven, contrariamente à imagem estigmatizada de um compositor em constante conflito com o seu próprio destino, seria também ele capaz de iluminar o coração e "elevar o espírito criador" naqueles idos anos de 1810. Quem saberá se alguma da chamada "ternura dos quarenta" não terá começado por aqui...    

   
Nuno Oliveira




"Sinfonia nº 7, em lá maior, op. 92"


✨ Extractos que proponho para audição: (nota: ver também publicações nº 3, 45, 75 e 81)
  • Wiener Philharmoniker
  • Carlos Kleiber
  • Deutsche Grammophon, 447 400-2 GOR
"o belo": toda a obra (Performance sublime e interpretação genial por aquele que é
                considerado por muitos como o maestro mais influente da história: o mestre
                Carlos Kleiber. Sempre que a ouvimos é como se nos falasse pela primeira
                vez... da tal mensagem de Beethoven que não devemos perder!),
                com alguns destaques, identificados a seguir;
                [I]: tutti, aos 3:55-5:07 e 6:08-7:20 (Madeiras inspiradoras, cordas apaixonantes
                e metais inebriantes!) [youtube]
                [II]: Tutti é "o belo"!, principalmente com as cordas aos 0:00-1:27 (Pianíssimo
                ensurdecedor aos 0:33...), violoncelos aos 0:47-1:28 (Escutemos a voz do Ludwig
                van na ternura dos quarenta...), cordas aos 1:29-2:11(A expressão máxima de uma
                mensagem...) e trompas aos 2:12-2:52 (...e confirmação de recepção.) [youtube]
                [III]: tutti (Danças de roda à sombra de árvores mais ou menos famosas ou mais
                ou menos mundanas. Possíveis ânforas nas imediações...) [youtube]
                [IV]: tutti (Pares de baile, bebei, que vamos dançar a dança da vida!) [youtube]






  • The Chamber Orchestra of Europe
  • Nikolaus Harnoncourt
  • Teldec, 9031-75714-2
"o belo": (A excelência sonora chamada COE numa interpretação luminosa e fresca,
                maravilhosamente dirigida por Harnoncourt. Excitação e espirituosidade em 
                doses certas. Um registo simplesmente a não perder.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • London Classical Players
  • Roger Norrington
  • Virgin, CDM 7243 5 61376 2 2
"o belo": (Um registo esplêndido, com uma escolha de tempos convincente. Articulação
                e brilhantismo em toda a obra, com destaque para o final maravilhoso que nos  
                é oferecido por tímpanos e trompas. Uma excelente escolha também.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • Wiener Philharmoniker
  • Simon Rattle
  • EMI, 7243 5 57570 2 9
"o belo": (Interpretação espontânea registada ao vivo no Musikverein da Viena de
                Beethoven. Aqui podemos encontrar a liberdade e a expressividade a que
                Simon Rattle nos habituou. Uma excelente opção, a todos os níveis.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks Hamburg
  • Günter Wand
  • RCA, RD 60091
"o belo": (Balanço orquestral impressionante e a inspiração e o carácter habitual
                na direcção do maestro alemão. Uma maravilha a ter em conta também.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • London Symphony Orchestra
  • Bernard Haitink
  • LSO Live, LSO0078
"o belo": (Doses certas de melancolia e alegria num registo ao vivo em 2005. A tensão
                nota-se e o domínio da obra pelo mestre holandês também. Um registo de eleição.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • Wiener Philharmoniker
  • Leonard Bernstein
  • Deutsche Grammophon, 419 434-2 GH
"o belo": (Sonoridade gloriosa da orquestra vienense, registada ao vivo no Muzikverein,
                em 1978. Direcção enérgica e performance excitante como é habitual no mestre
                norte americano. Uma escolha de qualidade a ter em conta.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






  • Berliner Philharmoniker
  • Herbert von Karajan
  • Deutsche Grammophon, 439 003-2 GHS
"o belo": (A história dos registos sonoros obrigaria sempre a ter em Ludwig van
                Beethoven uma proposta chamada Herbert von Karajan. Uma boa opção.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]





  
   
✰ Outras sugestões:
  • Bernard Haitink/Concertgebouw Orchestra, Amsterdam/Philips, 420 540-2 PH (Elegância e melancolia numa interpretação polida do agrupamento holandês. A descobrir.)  [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]




  • Carlo Maria Giulini/La Scala Philharmonic Orchestra/Sony, SK 48 236 (A visão do mestre italiano que merece ser ouvida também.)  [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]




  • Gustavo Dudamel/Simón Bolívar Youth Orchestra of Venezuela/Deutsche Grammophon, 00289 477 6228 GH (Um milagre para escutar com atenção...), [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]




  • Jaap van Zweden/Residentie Orkest Den Haag/Decca, 00289 4765006 5 (Som quente e interpretação sem excessos. Aqui privilegia-se o lirismo.)  [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube]






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Ludwig van Beethoven [Viena, 1812]




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Histórias entre dois cruzeiros...




...e o início de uma história.

 

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