45. Beethoven: sinfonia nº 6, "Pastorale" |
A naturalmente genial Sinfonia nº 6, "Pastorale", numa joint-venture de Ludwig van Beethoven com outros frequentadores do imaginário real.
À memória da mais bela Rosa daquele presépio à beira-rio.
Que o som das suas águas continue a inspirar os filhos da mesma forma que inspirou os pais.
E aos 250 anos de Ludwig van Beethoven.
Embora não se conheça, com total certeza, o dia em que Ludwig van Beethoven terá respirado os ares de Bona pela primeira vez (estima-se que foi num dia 16 de Dezembro), gosto de acreditar que teria sido no dia do seu baptismo, ocorrido a 17 de Dezembro de 1770, que o bebé Ludwig terá estreado as sensações da luz e do som, no entanto sem certezas sobre qual destas em primeiro, se a do sol que trespassaria, colorida, aqueles vitrais, ou a dos ecos que se multiplicariam, em frequências variadas, por aquelas paredes, ambas na Igreja da Paróquia de S. Remígio. Provavelmente ouviu primeiro para logo abrir os olhos curiosos, e, assim, nascer nesse abençoado dia... há 250 anos.
E aos 250 anos de Ludwig van Beethoven.
Embora não se conheça, com total certeza, o dia em que Ludwig van Beethoven terá respirado os ares de Bona pela primeira vez (estima-se que foi num dia 16 de Dezembro), gosto de acreditar que teria sido no dia do seu baptismo, ocorrido a 17 de Dezembro de 1770, que o bebé Ludwig terá estreado as sensações da luz e do som, no entanto sem certezas sobre qual destas em primeiro, se a do sol que trespassaria, colorida, aqueles vitrais, ou a dos ecos que se multiplicariam, em frequências variadas, por aquelas paredes, ambas na Igreja da Paróquia de S. Remígio. Provavelmente ouviu primeiro para logo abrir os olhos curiosos, e, assim, nascer nesse abençoado dia... há 250 anos.
(Muitas vezes a beleza do mundo natural motiva-me a algum fervor religioso e a considerações que Ludwig certamente não levaria a mal... Pelo menos esta é a convicção com que sempre me deparo, todas as vezes que termino de escutar a sua Sinfonia nº 6, op. 68, Pastorale. Melhor justificação para determinado atrevimento, porventura, não haverá.)
Composta juntamente com a sua Sinfonia nº 5 e os três Quartetos Razumovsky nos retiros de Verão passados entre 1807 e 1808 em Heiligenstadt, uma localidade campestre (hoje um subúrbio de Viena) situada na margem direita do Danúbio, a Sinfonia nº 6 exteriorizaria finalmente os sentimentos profundos de Beethoven (1770-1827) pela natureza, apresentando, deste modo, um carácter programático de forma algo intencional.
O título desta sinfonia, que o autor chamaria originalmente de Caracteristica, Pastorella e, finalmente, Pastoral, chegaria aos nossos dias como Pastorale. Como o nome seguramente indicia, esta música transporta-nos para o ambiente apelativo da natureza, o meio sugestionador da poesia que, por sua vez, inspiraria compositores a partir do séc. XVII, através de obras como Le devin du village, de Rousseau, onde a estética da natureza é altamente trabalhada. O que Ludwig faria, seria eliminar o intermediário e ir beber directamente à fonte, neste caso efectivamente natural.
Na realidade, Beethoven viria a defender a sua sinfonia contra a ideia da interpretação literal de tais pensamentos e imagens através da música, rejeitando inicialmente qualquer intenção programática para uma melhor compreensão da sua obra, demonstrado, aliás, pelo que viria a escrever no seu caderno de rascunho, conhecido hoje como Landsberg 10: "... alguém que tenha a mínima ideia do que é a vida no campo, pode compreender facilmente as intenções do compositor sem a necessidade de notas adicionais". A proposta seria então: ouve e pensa; sem que se pretendesse, entretanto, admitir a vice-versa que o autor viria a aceitar progressivamente, justificada pela utilização de designações e textos programáticos, como viriam a ser exemplos o próprio titulo e o guia de concerto disponibilizado à audiência na noite da estreia: "Sinfonia Pastorale, uma expressão dos sentimentos mais do que uma pintura musical"; "Primeira peça: o despertar de sensações agradáveis na chegada ao campo" ([1], com os sons dos pássaros introduzidos pelo violino); "Segunda peça: cena junto ao ribeiro" ([2], o som da água na corrente pelas cordas, rouxinóis, codornizes e cucos nas flautas, oboés e clarinetes); "Terceira peça: alegre encontro com danças populares" ([3], as danças típicas dos camponeses da Baixa Áustria e da Estíria, e correspondentes peripécias interpretativas, moderadamente parodiantes, dos músicos amadores nativos dessas regiões); "Quarta peça: relâmpagos e tempestade" ([4], com a dança a terminar de forma abrupta e os músicos a fugirem ao romper da tempestade); "Quinta peça: canção do pastor, a felicidade depois da tempestade e os sentimentos de agradecimento pelas bênçãos, à divindade" ([5], com as melodias iodelei-iodelei-iodelei...izantes e um hino do pastor para uma paz que retorna à aldeia).
Escrita para uma orquestra clássica, composta pelas tradicionais madeiras (flautas, oboés, clarinetes e fagotes), trompas e cordas, e adicionais trompetes (um par...) para as danças (ou eventual farra...) no terceiro andamento, e tímpanos, flautim e trombones (dois...) para a tempestade no quarto... andamento, esta sinfonia viria a ser estreada a 22 de Dezembro de 1808 em Viena, num concerto de beneficência realizado no Theater an der Wien, que incluiria, também, as estreias da Sinfonia nº 5, do Concerto para piano nº 4, da Fantasia para piano coro e orquestra, do recitativo e ária "Ah, Perfido" e da Gloria e do Sanctus da sua Missa em dó Maior, o que pelas minhas contas totalizariam muito para lá das três horas de concerto e um belíssimo exemplo dos exageros dum romantismo que começava a romper em força (...para utilizar uma expressão que me parece adequada à corrente estética). Não haveria, certamente, necessidade...
Embora as partes musicais tenham sido editadas logo em 1809, em Leipzig, a partitura completa só viria a ser publicada pela primeira vez em 1826. Esta conteria a música, titulo e notas de programa correspondentes, informações mais do que suficientes para a maioria daqueles que usufruem da genialidade de Beethoven, maioria à qual natural e despretensiosamente acredito pertencer, e, ainda assim, a cada sessão de audição descubro-me a folhear as palavras sobre o que o seu amigo e um dos seus primeiros biógrafos, Anton Schindler, viria mais tarde a contar:
"- À medida que íamos caminhando sobre a erva agradável do vale entre Heiligenstadt e Grinzing, Beethoven parava com frequência e lançava o seu olhar através da bela paisagem, repleto de sentimentos felizes. Depois sentava-se num campo, encostado a um ulmeiro, e perguntava-me se eu conseguia ouvir alguma escrevedeira-amarela nas copas mais altas daquelas árvores. Mas tudo estava silencioso... Por fim dizia: - Foi aqui que eu compus a cena junto ao ribeiro, com as escrevedeiras-amarelas a sobrevoarem e as codornizes, os rouxinóis e os cucos a comporem juntamente comigo."... uma poesia que enriquece o ouvido de qualquer um.
Parabéns Ludwig!
Nuno Oliveira
"Sinfonia nº 6, em fá maior, op. 68, Pastorale"
✨ Extractos que proponho para audição: (nota: ver também publicações nº 3, 62, 75 e 81)
- Wiener Philharmoniker
- Karl Böhm
- Deutsche Grammophon, 447 433-2 GOR
O mestre Karl Böhm? Insuperável desde 1971. A não perder!), com alguns
destaques, identificados a seguir;
[I]: cordas, madeiras e trompas (... com a aragem debaixo das asas!) [youtube]
[II]: cordas, madeiras e trompas (O ecossistema terrestre aos nossos pés...) [youtube]
[II]: cordas, madeiras e trompas (O ecossistema terrestre aos nossos pés...) [youtube]
[III]: tutti e trompas (O fogo da festa!) [youtube]
[IV]: tutti, tímpanos, metais e flautim (Tempestades naturais e humanas...) [youtube]
[IV]: tutti, tímpanos, metais e flautim (Tempestades naturais e humanas...) [youtube]
[V]: tutti, cordas e trompas (E a paz volta a"o belo" reino natural...) [youtube]
- The Hanover Band
- Roy Goodman
- Nimbus, NI 5099
levada ao extremo por músicos exímios, dirigidos magistralmente por Goodman.)
[I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
- Philharmonia Orchestra
- Vladimir Ashkenazy
- Decca, 410 003-2 DH
frias de inverno. Uma "maravilha da natureza" a não perder também.)
- Wiener Philharmoniker
- Simon Rattle
- EMI, 6 31769 2
[I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
[I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
[I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
[I] [youtube], [II] [youtube], [III-IV] [youtube], [V] [youtube]
✰ Outras sugestões:
- Wiener Philharmoniker
- Leonard Bernstein
- Deutsche Grammophon, 413 779-2 GH
[I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
- Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks Hamburg
- Günter Wand
- RCA, RD 60094
[I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
- London Philharmonic Orchestra
- Klaus Tennstedt
- EMI, CDC 7 47459 2
ppp ao fff onde a suavidade e a poesia são características dominantes.
Uma excelente escolha.)
[I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
[I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
- The Academy of Ancient Music
- Christopher Hogwood
- L'Oiseau-Lyre, 421 416-2 OH
pela dupla pioneira Hogwood e AAM. Uma escolha de qualidade.)
- Tonhalle Orchestra Zurich
- David Zinman
- Arte Nova, 74321 49695 2
[I] [youtube], [II] [youtube], [III-IV] [youtube], [V] [youtube]
- Pablo Casals/Marlboro Festival Orchestra/Sony, SMK 45891 (A espontaneidade de um grande músico que fica para a história.), [I-V] [youtube]
- André Previn/Royal Philharmonic Orchestra/RCA, RD87747 (O registo do mestre Previn a descobrir também.), [I] [youtube], [II] [youtube], [IV] [spotify], [V] [youtube]
- Claudio Abbado/Wiener Philharmoniker/DG, 419 779-2 GH (Uma interpretação sem exageros, de "natureza" mais contemplativa que graciosa.), [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube]
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"A Rosa do presépio"
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