A Sinfonia nº 5 de Jean Sibelius, uma ilha Asgardiana no fiorde Finlandês.
Para aqueles amigos que gostam da boa Música, de Sibelius e... dos Vingadores (da Marvel, naturalmente).
É do conhecimento comum que a sinfonia nº 5 do compositor finlandês Jean Sibelius (1865-1957) teria sido, de entre as sete que compôs, aquela que lhe traria as maiores dores de cabeça, dores que se iniciariam em 1915, se agravariam pelas várias revisões realizadas durante o conflito e turbulência crescente da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), terminando (finalmente!) em 1919, após a estreia da versão final (e duma partitura profundamente modificada) em Helsínquia, pelo compositor.
Na realidade, Sibelius escreveria esta obra para que fosse estreada na data do seu 50º aniversário, o que terá acontecido, mas retirá-la-ia logo a seguir, porque, aparentemente, não teria ficado contente com o resultado sonoro da visível preocupação, que certamente tivera, para apresentar uma partitura pronta para essa ocasião (a sempre difícil relação motor-travão dos níveis de stress... muitas vezes a potência que falta à criação, noutras, como se terá revelado neste caso, a oposta desaceleração).
Em 1916, faria a primeira revisão da obra, mas como não terá ficado satisfeito (de novo, e muito bem) após uma representação nesse ano, pretenderá realizar uma nova revisão em 1917, para ser apresentada em Helsínquia sob a direcção do seu cunhado, Armas Jarnefelt. Essa revisão seria contudo adiada, devido à degradação política numa Finlândia que, após ter declarado independência (boa!) a uma Rússia Czarista em desintegração, começa uma Guerra civil entre a ala esquerda da Guarda Vermelha e os nacionalistas finlandeses da Guarda Branca (...a multicolor luta pelo poder, mais uma vez...!?).
Esta sinfonia, sugerida por alguns como a "Heroica" do séc. XX (no sentido em que, para além do heroísmo evidente, também partilharia a tonalidade de Mi b maior, no início e no fim da obra, com a sinfonia nº 3 do mestre de Bona), seria, deste modo, retrabalhada na maior parte em 1918, como aliás o autor escreveria em Abril desse ano: "Estou a trabalhar diariamente numa nova forma da sinfonia, praticamente composta de novo", o que não deverá ser considerado exagerado, atendendo, nomeadamente, à passagem dos quatro andamentos de 1915 para os três de 1919, através da ligação genial dos dois primeiros, um Molto moderato a um Allegro moderato, que poderá ser apreciada com a adequada mestria da orientação musical (a qual, como não poderia deixar de ser, é encontrada nos exemplos de audição que proponho!).
Desta forma, ao ambiente escurecido da 1ª Grande Guerra dos primeiros compassos de 1915 (que de algum modo ainda se manteria num solo de fagote no primeiro andamento, que segundo as palavras do compositor teria sido escrito: "num espírito de profunda depressão", comprovado, aliás, pela clarificadora entrada no diário daquela época: "O meu coração canta, cheio de tristeza - as sombras alongam-se"), seguir-se-iam os céus azuis do Pós-Guerra Civil, um quadro eventualmente reflectido no final triunfal da sinfonia, embora esta associação fosse recusada por um Sibelius que considerava a sua música: "Absoluta"... apesar de um Jean concordar com a descrição que o amigo, Granville Bantock, faria da obra: "...somos colocados face a face com o cenário selvagem e feroz do país do compositor, as neblinas... que pairam sobre os rochedos, lagos e florestas cobertas de abetos..." (um quadro visivelmente menos solarengo, neste caso, mas mesmo assim... um quadro). Atitudes porventura englobadas numa eventual estratégia de marketing, que, neste 'quadro', não merecerá certamente aprofundar.
Na verdade, a sinfonia desenvolver-se-ia numa espécie de progressão espiritual, da angústia inicial à aproximação dum final radioso, recordado por T.S. Eliot como: "A escuridão declara a glória da luz" (ao que acrescento: nas percepções simultaneamente místicas e da própria natureza). Ao pluriemocional primeiro andamento, desenvolvido em várias secções e do mais imaginativo que Sibelius escreverá, seguir-se-ia um segundo andamento com sentimentos pastorais e céus limpos, mas com vestígios, aqui e ali, de pequenas nuvens ameaçadoras da tranquilidade climática, através de alguma dissonância ambiente...
E a sinfonia terminaria com seis marteladas ao terceiro andamento... isto é: segundo se sabe, Sibelius teria um fascínio pelo som das aves, em particular pela espécie de canto choroso recitado pelos cisnes, o que lhes conferiria, para além de supostas características sobrenaturais, uma tão apreciada bondade. Segundo o diário do compositor, teria sido a observação e escuta de um bando de dezasseis cisnes (...extremamente específico este diário, portanto) a inspiração para o mais famoso tema da sinfonia: o majestoso tema introduzido pela trompa no terceiro andamento... que ao que parece teria sido inicialmente pensado para um "Legato nos trompetes!!" (abençoado diário, mais uma vez), o que não se viria a confirmar (Trompa 1 - 0 Trompete, ao intervalo). A este tema, que Jean Sibelius chamaria de "Hino do cisne", Donald Tovey, o famoso musicólogo britânico, descreveria como: "Thor a balançar o seu martelo"... nada mais acertado, seguramente, este nome próprio e apelido... já para o nome completo, atrever-me-ia dizer: "Thor a balançar o seu martelo de forma heroica, num lago dos cisnes encantado... por um fiorde Finlandês!".
"Sinfonia nº 5, em mi b maior, op. 82"
✨ Extractos que proponho para audição: (nota: ver também publicações nº 43 e 63)
com alguns destaques, identificados a seguir;
I: trompas e madeiras aos 0:00-0:54 (... tema na trompa e a promessa do que virá
aí, pelo oboé, clarinete e flauta); tutti aos 8:54-9:32 (A majestade do fiorde
Finlandês!!!, cujas águas, dirigidas por mão sábia, correm serenas...)
[youtube] [youtube]
II: tutti (...céu limpo e alguns pingos... dissonantes) [youtube]
III: trompas e tutti (...trompas Asgardianas e um encantado lago dos cisnes!) [youtube]
I [youtube], II [youtube], III [youtube]
I [youtube], II [youtube], III [youtube]
RCA - I [youtube], II [youtube], III [youtube]
Para aqueles amigos que gostam da boa Música, de Sibelius e... dos Vingadores (da Marvel, naturalmente).
É do conhecimento comum que a sinfonia nº 5 do compositor finlandês Jean Sibelius (1865-1957) teria sido, de entre as sete que compôs, aquela que lhe traria as maiores dores de cabeça, dores que se iniciariam em 1915, se agravariam pelas várias revisões realizadas durante o conflito e turbulência crescente da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), terminando (finalmente!) em 1919, após a estreia da versão final (e duma partitura profundamente modificada) em Helsínquia, pelo compositor.
Na realidade, Sibelius escreveria esta obra para que fosse estreada na data do seu 50º aniversário, o que terá acontecido, mas retirá-la-ia logo a seguir, porque, aparentemente, não teria ficado contente com o resultado sonoro da visível preocupação, que certamente tivera, para apresentar uma partitura pronta para essa ocasião (a sempre difícil relação motor-travão dos níveis de stress... muitas vezes a potência que falta à criação, noutras, como se terá revelado neste caso, a oposta desaceleração).
Em 1916, faria a primeira revisão da obra, mas como não terá ficado satisfeito (de novo, e muito bem) após uma representação nesse ano, pretenderá realizar uma nova revisão em 1917, para ser apresentada em Helsínquia sob a direcção do seu cunhado, Armas Jarnefelt. Essa revisão seria contudo adiada, devido à degradação política numa Finlândia que, após ter declarado independência (boa!) a uma Rússia Czarista em desintegração, começa uma Guerra civil entre a ala esquerda da Guarda Vermelha e os nacionalistas finlandeses da Guarda Branca (...a multicolor luta pelo poder, mais uma vez...!?).
Esta sinfonia, sugerida por alguns como a "Heroica" do séc. XX (no sentido em que, para além do heroísmo evidente, também partilharia a tonalidade de Mi b maior, no início e no fim da obra, com a sinfonia nº 3 do mestre de Bona), seria, deste modo, retrabalhada na maior parte em 1918, como aliás o autor escreveria em Abril desse ano: "Estou a trabalhar diariamente numa nova forma da sinfonia, praticamente composta de novo", o que não deverá ser considerado exagerado, atendendo, nomeadamente, à passagem dos quatro andamentos de 1915 para os três de 1919, através da ligação genial dos dois primeiros, um Molto moderato a um Allegro moderato, que poderá ser apreciada com a adequada mestria da orientação musical (a qual, como não poderia deixar de ser, é encontrada nos exemplos de audição que proponho!).
Desta forma, ao ambiente escurecido da 1ª Grande Guerra dos primeiros compassos de 1915 (que de algum modo ainda se manteria num solo de fagote no primeiro andamento, que segundo as palavras do compositor teria sido escrito: "num espírito de profunda depressão", comprovado, aliás, pela clarificadora entrada no diário daquela época: "O meu coração canta, cheio de tristeza - as sombras alongam-se"), seguir-se-iam os céus azuis do Pós-Guerra Civil, um quadro eventualmente reflectido no final triunfal da sinfonia, embora esta associação fosse recusada por um Sibelius que considerava a sua música: "Absoluta"... apesar de um Jean concordar com a descrição que o amigo, Granville Bantock, faria da obra: "...somos colocados face a face com o cenário selvagem e feroz do país do compositor, as neblinas... que pairam sobre os rochedos, lagos e florestas cobertas de abetos..." (um quadro visivelmente menos solarengo, neste caso, mas mesmo assim... um quadro). Atitudes porventura englobadas numa eventual estratégia de marketing, que, neste 'quadro', não merecerá certamente aprofundar.
Na verdade, a sinfonia desenvolver-se-ia numa espécie de progressão espiritual, da angústia inicial à aproximação dum final radioso, recordado por T.S. Eliot como: "A escuridão declara a glória da luz" (ao que acrescento: nas percepções simultaneamente místicas e da própria natureza). Ao pluriemocional primeiro andamento, desenvolvido em várias secções e do mais imaginativo que Sibelius escreverá, seguir-se-ia um segundo andamento com sentimentos pastorais e céus limpos, mas com vestígios, aqui e ali, de pequenas nuvens ameaçadoras da tranquilidade climática, através de alguma dissonância ambiente...
E a sinfonia terminaria com seis marteladas ao terceiro andamento... isto é: segundo se sabe, Sibelius teria um fascínio pelo som das aves, em particular pela espécie de canto choroso recitado pelos cisnes, o que lhes conferiria, para além de supostas características sobrenaturais, uma tão apreciada bondade. Segundo o diário do compositor, teria sido a observação e escuta de um bando de dezasseis cisnes (...extremamente específico este diário, portanto) a inspiração para o mais famoso tema da sinfonia: o majestoso tema introduzido pela trompa no terceiro andamento... que ao que parece teria sido inicialmente pensado para um "Legato nos trompetes!!" (abençoado diário, mais uma vez), o que não se viria a confirmar (Trompa 1 - 0 Trompete, ao intervalo). A este tema, que Jean Sibelius chamaria de "Hino do cisne", Donald Tovey, o famoso musicólogo britânico, descreveria como: "Thor a balançar o seu martelo"... nada mais acertado, seguramente, este nome próprio e apelido... já para o nome completo, atrever-me-ia dizer: "Thor a balançar o seu martelo de forma heroica, num lago dos cisnes encantado... por um fiorde Finlandês!".
Nuno Oliveira
"Sinfonia nº 5, em mi b maior, op. 82"
✨ Extractos que proponho para audição: (nota: ver também publicações nº 43 e 63)
- Berliner Philharmoniker
- Herbert von Karajan
- Deutsche Grammophon, 415 107-2 GH
com alguns destaques, identificados a seguir;
I: trompas e madeiras aos 0:00-0:54 (... tema na trompa e a promessa do que virá
aí, pelo oboé, clarinete e flauta); tutti aos 8:54-9:32 (A majestade do fiorde
Finlandês!!!, cujas águas, dirigidas por mão sábia, correm serenas...)
[youtube] [youtube]
II: tutti (...céu limpo e alguns pingos... dissonantes) [youtube]
III: trompas e tutti (...trompas Asgardianas e um encantado lago dos cisnes!) [youtube]
- Philharmonia Orchestra
- Simon Rattle
- EMI, CDM 7 64737 2
I [youtube], II [youtube], III [youtube]
- Philharmonia Orchestra
- Vladimir Ashkenazy
- Decca, 455 405-2 DF2
I [youtube], II [youtube], III [youtube]
- London Symphony Orchestra
- Colin Davis
- RCA, 09026 61963 2 ou LSO Live, LSO0037
RCA - I [youtube], II [youtube], III [youtube]
LSO Live - I [youtube], II [youtube], III [youtube]
I [youtube], II [youtube], III [youtube]
e dos seus músicos do Pacífico.)
I [youtube], II [youtube], III [youtube]
✰ Outras sugestões:
- City of Birmingham Symphony Orchestra
- Simon Rattle
- EMI, CDC 7 49717 2
I [youtube], II [youtube], III [youtube]
- San Francisco Symphony
- Herbert Blomstedt
- Decca, 425 858-2
e dos seus músicos do Pacífico.)
I [youtube], II [youtube], III [youtube]
- Sakari Oramo/City of Birmingham Symphony Orchestra/Erato, 8573-85822-2 (A versão impressionante pelo nativo Oramo.), I [youtube], II [youtube], III [youtube]
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"Amizades candidatas a novos heróis da Marvel" [Efeitos do Carnaval de 2018, em Nelas...]
"Super Pop João" "Rui Afonso IV, às vezes Bravo"
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