domingo, 22 de novembro de 2020


42. Chopin: concerto p/ piano nº 2 |


A finalidade do ornamento num concerto para piano, "segundo" o original, em fá menor, de um ser apaixonado pelo amor chamado Frédéric Chopin.






Para o menino de ouro que é o meu amigo Gil Abrantes, um retrato de educação, alegria e simplicidade, múltiplas vezes impresso em todos os outros. Uma impressão que marca e aquela que conta... para um mundo melhor.

(E, de novo, ao orgulho que sinto pela nossa Maria João!) 






O jovem pianista e compositor Frédéric Chopin (1810-1849), viria a escrever o seu primeiro concerto para piano entre o Verão de 1829 e o Inverno de 1830, na capital da sua Polónia natal, Varsóvia, concerto que viria a ser batizado de segundo, contribuindo para isso o facto de ter sido editado depois da publicação do segundo concerto que viria, entretanto, a compor. Confuso? Como diria um outro primeiro que teria ficado em segundo (nada contra, acrescento), "- Vamos lá ver": ao escrito em primeiro lugar seria atribuído o nome de 2º (em fá menor, op. 21), em Abril de 1836, pela editora Breitkopf de Leipzig, na medida em que o que teria sido composto em segundo já teria sido chamado de 1º (em mi menor, op. 11), em Julho de 1833, pela Schlesinger de Paris. Os irredutíveis gauleses a chegar primeiro, neste caso... como noutros casos também, alguns mais recentes e de particular carácter lusófono (...ou não tivessem ocorrido em Cabo Delgado e ecoados em silêncio até Lisboa, onde, supostamente, alguém teria pressionado acidentalmente o botão do "mute" duma residência em Belém...).
A criação desta obra surgiria com as aspirações do autor em se tornar um pianista virtuoso de reputação internacional. Na realidade, e contrariamente ao que acontece nos dias de hoje onde pianistas iniciam a interpretação musical pelas obras dos mestres do passado, os maiores virtuosos do séc. XIX interpretariam as suas próprias composições na maior parte das vezes, de forma a tentar manter o interesse do público durante as tournées de concertos que realizariam um pouco por toda a Europa.
De igual modo, e suscetível como qualquer outro jovem da sua idade, o angustiado Frédéric definhava com um amor por Konstancja Gladkowska, uma jovem e talentosa soprano que teria conhecido no Conservatório de Varsóvia em 1826, naquela altura com os dezasseis anos característicos de um teenager (...uma fase pela qual todos passamos, uns durante mais tempo que outros, e onde alguns, inclusive, se vão mantendo ao longo do tempo... num limbo idiótico, nos casos mais agudos). Extremamente tímido, Frédéric permitir-se-ia a si próprio a uma idealização desta paixão através da sua produção musical. Com efeito, as cartas que teria escrito naquela altura ao seu amigo Tytus Woyciechowski, sugeririam um Chopin apaixonado pela sensação de estar apaixonado, numa redundância da paixão pelo amor (ou vice-versa...) cujas alternâncias de sonhos ardentes (...porventura os de um jovem-pianista-de elevado virtuosismo) e entusiasmo "confinado" (...de um (já) maduro-compositor-de recatado lirismo, quem sabe), ficariam registados no seu concerto para piano nº 2, o primeiro que escreveu, também aqui coincidente na dicotomia cronológica dos timings de composição e de publicação, à semelhança de um certo compromisso romântico de Frédéric a uma aproximação clássica de Chopin.
E teria sido, assim, neste contexto, que Chopin viria a compor este concerto, a obra maior que o lançaria numa tournée de sucesso iniciada em Varsóvia em Março de 1830, passando por várias cidades até à sua chegada a Paris em Setembro de 1831, cidade onde viria a viver até ao fim da vida, em várias moradas na Rive Droite do Sena, do Boulevard Poissonnière nº 27 até à Place Vendôme nº 12 e à morada final no Cimetière du Père-Lachaise, sem, contudo, a companhia da inspiração chamada Konstancja, de alguém que apesar da tradicional troca de anéis nunca viria a considerar seriamente a relação com o "temperamental, cheio de fantasias e pouco confiável" Frédéric Chopin (?).
Esta obra viria a ser dedicada à Condessa Delphine Potocka e estreada com enorme sucesso no Teatro Nacional de Varsóvia a 17 de Março de 1830, com direcção do maestro Karol Kurpinski, numa sala esgotada três dias antes dessa apresentação. Um ouvinte que se encontrava entre o público, viria a escrever sobre aquela noite: "... A sua música está repleta de sentimentos e melodias expressivas, que colocam o ouvinte num estado de subtil contemplação, trazendo para a sua memória todos os momentos felizes que conheceu". Assino por baixo. Também Liszt e Schumann viriam a testemunhar, incrédulos, o atrevimento, confiança e individualidade de um génio de dezanove anos de idade, com Liszt a considerar, ainda, que o segundo andamento, Largetto, exibiria o que para ele seria o ideal da beleza romântica, apesar das criticas que simultaneamente faria sobre o "esforço ocasional e falta de inspiração" relativos aos andamentos vizinhos, o primeiro e terceiro, que rodeariam esta sua visão da beleza romântica de central decoro (um Franz no seu melhor... para além de um bom exemplo do que o pode agradar a Gregos, a Troianos poderá provocar o sentimento oposto...).
Este maravilhoso concerto apresentaria, assim, os habituais três andamentos. No primeiro andamento [1] podemos perceber a modulação colorida e os ornamentos que representam uma finalidade estrutural de rotura com a forma tradicional do concerto clássico, onde o ornamento serve de complemento à ideia temática. Já em Chopin o ornamento é a ideia! Seguir-se-ia o famoso Largetto do segundo andamento [2], o lirismo poético da melodia do piano na celebração de um novo amor (na voz de um fagote, admito), e o exuberante terceiro andamento final [3], ao ritmo da popular Mazurka da sua Polónia natal, num blend de espectáculo e nacionalismo de colocar um sorriso nos lábios de cada um...
...à semelhança de uma Baga Bairradina acompanhada por um método champanhês!
Na zdorowie Fryderyk!... À ta santé, Frédéric!... À tua saúde, Frederico!               

Nuno Oliveira    




 "Concerto p/ piano nº 2, em fá menor, op. 21"


✨ Extractos que proponho para audição: (nota: ver também publicação nº 17)
  • Maria João Pires
  • Royal Philharmonic Orchestra
  • André Previn
  • Deutsche Grammophon, 437 817-2 GH
"o belo": toda a obra, com alguns destaques em baixo;
                I: piano aos 3:08, 6:24, 11:13,... (Ornamentos na mais bela filigrana![youtube]
                II: piano (Como Liszt estava certo! "o (mais) belo" é mesmo isto!) [youtube]
                III: piano/tutti (...e um sorriso ao acabar a festa, anunciado pela trompa (6:48)...) [youtube]





 
  • Artur Rubinstein
  • The Philadelphia Orchestra
  • Eugene Ormandy
  • RCA, GD60404
"o belo": (Subtilezas joviais de um octogenário sem idade apresentadas de forma
                delicada e refinada. O brilhantismo de uma vida pode ser encontrado aqui.
                Registo a tocar o divino.) I [youtube], II [youtube], III [youtube]





 
    
✰ Outras sugestões:




  • Nicolai Demidenko/Heinrich Schiff/The Philharmonia/Hyperion, CDA66647 [iTunnes]



 

 





 










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Frédéric Chopin [Paris, 1849]





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"Os meus dois concertos para piano de Chopin" (na foto, à esquerda) 





"A Place Vendôme e tu" (Paris, Abril de 2014) 



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