sábado, 17 de outubro de 2020


40. Mozart: sinfonia concertante p/ violino e viola |

A "Sinfonia concertante para violino e viola", do Mozart de sempre, e a "Sinfonia concertante para viola e violino", de Aloysia e Anna Maria... para quando olhamos para uma cadeira e vemos Portugal...






Para a nossa Ana Bela Chaves, que após 40 anos à frente do naipe das violas da magnífica Orchestre de Paris, realizou o seu último concerto no dia 1 de Outubro de 2020, numa despedida com o segundo andamento da Sinfonia concertante para violino e viola, um Andante do génio de Mozart. Começou os primeiros compassos acompanhada pelo violino do concertino Philippe Aiche, até que chegou uma surpresa chamada Gil Shaham... Seguiram-se Música e Amor em forma de beijos atirados e devolvidos, muitos sorrisos, vivas e um enorme aplauso (...porventura numa mensagem divina, nesse dia Mundial da Música, para que não se ponha, ainda, a viola ao saco...).  


(E à recordação do orgulho que senti na primeira vez que vi a Ana Bela com a Orchestre de Paris [era Portugal naquela cadeira], num programa dirigido por Claus Peter Flor, no Théâtre Mogador, em Paris. Foi, até agora, a única vez que assisti ao vivo a uma 15ª de Shostakovitch, numa aventura passada entre "Navette-RER-Metro-Où est la Rue du Mogador?" e "Taxi-Centre Technique de Vélizy", que acaba de fazer quinze anos de idade. [22-9-2005])






Tivéssemos nós vivido na Salzburgo de 1777 e poderíamos muito provavelmente ter observado um jovem, chamado Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), a abandonar uma cidade onde se respirava mal a cultura, em direcção a uma outra, Mannheim, onde de forma oposta se sentia uma brisa artística constante.
E seria naquela cidade de Mannheim, que Wolfgang viria a passar o inverno de 1777-1778, acompanhado pela sua mãe, Anna Maria, e pela orquestra da corte, cujo vigor e competência o terão impressionado enormemente (numa mistura de disciplina e talento igual a excelência, como não poderia deixar de ser), à semelhança, aliás, daquilo que o poeta Friedrich Klopstock pensaria também, pelo menos nos momentos pós-concerto, onde perante algumas testemunhas chegaria mesmo a afirmar de que até poderia "...nadar nas delícias da música...", na companhia de outros eventuais nadadores, suspensos no leito renano dos sons daquele tempo (águas onde, descaradamente, também eu me vou atrevendo a, de vez em quando, dar algumas braçadas também... a procura de "o belo" impele-me irremediavelmente a isso). 
Mas não seria apenas a orquestra das margens do Reno, a melhor do mundo daquela época, que o viria a impressionar. Aloysia Weber, uma jovem cantora por quem ficara seriamente apaixonado, deixar-lhe-ia, de igual modo (se não superior...Weber era belíssima e Amadeus era... Amadeus!), uma marca profunda no espírito... e, admissivelmente, no corpo também (... Amadeus a ser Amadeus!, mais uma vez). Este seu relacionamento amoroso levá-lo-ia, no entanto, à partida precoce de Mannheim. O seu pai, Leopold, desapontado com o facto de que o filho não estivesse a fazer mais do que o necessário para viver uma vida modesta, escreveria a Wolfgang, ordenando-o que não ficasse mais naquela cidade e partisse de imediato para Paris... coisa que Wolfgang, embora com alguma relutância, fez, incapaz de desobedecer às ordens do pai (...e enfrentar o seu indesejado humor), mas levando consigo a lembrança insatisfatória (...Amadeus!) de uma parte (...a melhor, era Amadeus!) do que vivera em Mannheim: um par de luvas tricotadas por Aloysia (... e, certamente, perfumadas também... para Amadeus!).
Mozart chegaria a Paris, com a mãe, em março de 1778, onde, ainda estimulado pelas memórias de Aloysia (...aquele perfume, sentido agora junto aos Jardins do Luxemburgo) e da Orquestra de Mannheim (...aquela corrente de sons, murmurada agora junto ao Sena), viria rapidamente a compor várias obras importantes, onde se incluiria a sua famosa Sinfonia nº 31, K297, "Paris", um sucesso que ficaria contudo por celebrar devido à dor que viria a sofrer com a morte da sua mãe, a 3 de Julho desse ano (uma Luz que entretanto se apagara na cidade da luzes, a de Anna Maria, a sua Luz).
Desapontado com a vida artística parisiense, seriamente impactada com as mortes de Voltaire e Rousseau em 1778, Mozart decide abandonar a cidade e retornar a Salzburgo no inicio de 1779, onde, descontente, reentra ao serviço do Príncipe-Arcebispo, o opressivo (... e pouco sensível a odores artísticos e correntes estéticas... mesmo quando apreciadas dos Jardins de Mirabell ou das margens do Salzach): Hieronymus von Colloredo. Para Mozart, essa realidade seria sentida como uma profunda derrota, o seu espírito afundar-se-ia e nada parecia sair da sua pena genial até que chegaria o Outono, e, com ele, o súbito impulso da criatividade que resultaria na criação de uma indiscutível obra-prima: a sua Sinfonia concertante para violino e viola, em mi b maior, K364; num registo na moda naqueles anos 70, uma fusão (ou confusão... em alguns casos, se por autores insuficientemente talentosos) de concerto grosso, concerto a solo e sinfonia.
Pouco se conhece sobre a proveniência dos solistas originais ligados a esta obra virtuosa (e, já agora, virtuosística), no entanto supõe-se que terão sido os mesmos músicos que Mozart teria pensado, juntamente com um violoncelista (também desconhecido), para um pretendido concerto triplo em lá maior (o violinista Antonio Brunetti, para quem Mozart teria escrito alguns dos seus concertos para violino, estaria entre eles, ou eventualmente Ignaz Franzl, o concertino da Orquestra de Mannheim). A ausência de clarinetes, entretanto, não deixaria ficar dúvidas de que esta obra teria sido escrita para Salzburgo ao invés de Mannheim, contribuindo, assim, para confirmar a suspeita da falta do razoável bom gosto orçamental (tratar-se-ia seguramente mais de uma questão de bom gosto do que de orçamento, numa Salzburgo abastada naquela época), característica que, ao que parece também, viria a ser sucessivamente adoptada por um país chamado Portugal, culminando em Outubro de 2020 com a atribuição para a cultura de uma verba de 0,21% do orçamento geral para 2021 (assim não chegamos lá... ao sítio onde os mais felizes que nós estão).
Esta obra, dividida em três andamentos, é simultaneamente poderosa e intimista, num estilo verdadeiramente concertante (desconcertante... o modo como os instrumentos solistas interagem entre si, numa espécie de diálogo entre um casal verdadeiramente cúmplice... quem sabe Wolfgang e Aloysia!?), com uma explosão de ideias melódicas e uma multiplicidade de temas no Allegro Maestoso [1] inicial, onde só no tutti dos primeiros compassos podemos apreciar seis temas interligados entre si, um emocionante Andante [2] intermédio, sugerido por muitos como uma espécie de homenagem à memória da sua mãe, numa tristeza leve, que sem ser opressiva é contudo avassaladora (...de génio!), e um rondó agitado no Presto [3] final. Tudo isto apresentado com as texturas orquestrais ao gosto de Mozart, um jovem que aos vinte e três anos de idade já conheceria bem os difíceis sentimentos da saudade e da perda, e com as responsabilidades solísticas repartidas igualmente pelo casal... porventura numa espécie de prelúdio aos direitos da mulher e da igualdade de género, ou dum ideal sindical que despontava...
As voltas que a história dá... quando se anda às voltas com a História... 


Nuno Oliveira





"Sinfonia concertante para violino e viola, em mi b maior, K364"


✨ Extractos que proponho para audição:
  • Maxim Vengerov, Lawrence Power
  • UBS Verbier Festival Chamber Orchestra
  • Maxim Vengerov
  • EMI, 3 78374 2
"o belo": toda a obra (Tensão, magnetismo, nuances e sombras, melancolia... Vengerov
                à frente de si próprio e de um "Power" ao mesmo nível, num registo que reflecte
                o estudo aprofundado da obra. A não perder!);
                [I] - solistas e tutti (Aloysia...[youtube]
                [II] - solistas e tutti (Anna Maria...[youtube]
                [III] - solistas e tutti (Wolfgang...) [youtube]






  • Cho-Liang Lin, Jaime Laredo
  • English Chamber Orchestra
  • Raymond Leppard
  • Sony, SK 47693
"o belo": (A luminosidade e elegância de Lin, superiormente acompanhado por
               Laredo numa interpretação de referência desta obra. Sublime e imperdível.)
               [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube]






  • Anne-Sophie Mutter, Bruno Giuranna
  • Academy of St. Martin in the Fields
  • Neville Marriner
  • EMI, CDC 7 54302 2
"o belo": (A sensibilidade, delicadeza e expressividade que esperamos de Mutter,
               acompanhados pela frescura de Giuranna e Marriner. A ouvir, sim ou sim.)
               [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube]






  • Monica Huggett, Pavlo Beznosiuk
  • Portland Baroque Orchestra  
  • Monica Huggett
  • Virgin, 5 45290 2
"o belo": (A pureza e expressividade calorosa, numa interpretação com instrumentos
                de época de referência absoluta. Solistas e músicos de Portland de parabéns.)
                [I-III] [allmusic]






  • Midori, Nobuko Imai
  • NDR-Sinfonieorchester
  • Christoph Eschenbach
  • Sony, SK 89488
"o belo": (Detalhe e precisão nos solistas de topo, Midori e Imai, brilhantemente
                acompanhados pelo mestre Eschenbach.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube]






  • Daniel Majeske, Robert Vernon
  • The Cleveland Orchestra
  • Christoph von Dohnányi
  • London, 443 175-2 LH
"o belo": (Interpretação fiel e verdadeira, frescura e som a condizer. No top de qualquer escolha.)
                [II] [youtube]






  • Frank Peter Zimmermann, Tabea Zimmermann
  • Radio-Sinfonieorchester Stuttgart
  • Gianluigi Gelmetti
  • EMI, CDC 7 54196 2
"o belo": (Uma boa proposta apresentada por dois jovens solistas. Sonoridade e
               articulação limpas, com algumas belas passagens a demonstrar a personalidade
               e competência desta dupla.)
               [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube]






   
✰ Outras sugestões:
  • Yehudi Menuhin/Rudolf Barshai/Bath Festival Orchestra/HMV, HMVD 5 73201 2 (Também na visão do mestre Menuhin.), I [youtube], II [youtube], III [youtube] 




  • Isaac Stern/Pinchas Zukerman/New York Philharmonic/Zubin Mehta/CBS, CD 36692 (Parabéns ao mestre Stern pela música e pelos 60 anos!), I [youtube], II [youtube], III [youtube] 






∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞






Wolfgang Amadeus Mozart [1777]





∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞





Muito obrigado e muitas felicidades, Ana Bela Chaves!


Mozart, Sinfonia Concertante para violino e viola, em mi b maior, K364
Ana Bela Chaves, Gil Shaham
Paavo Järvi, Orchestre de Paris
Philharmonie de Paris, 01-10-2020


-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

quinta-feira, 8 de outubro de 2020


39. Smetana: A minha Pátria |

"A Pátria", de Bedrich Smetana... que bem poderia ser "minha" também (... a da minha Isabel e do meu Mondego, da minha Brites de Almeida, do meu Minho, dos meus Lusitanos de Viseu e da nossa Serra da Estrela...) 






Para a minha pátria: o meu Pai.

(...nesta data do teu aniversário... um número redondo, medianamente polémico, igualmente apreciado por alguns "starolusos" e "mladolusos"... e eventualmente desapreciado por outros que tais).







O compositor Bedrich Smetana nasceu na cidade de Litomysl em 1824 e faleceu em Praga em 1884, tendo vivido a grande maioria dos seus sessenta anos 100% CHECO.
Durante a infância, a linguagem predominante na sua terra natal era ainda o alemão, apesar das crescentes vozes nacionalistas que despontavam (de marcado sotaque checo...). Na sua juventude, e à semelhança da maioria dos jovens músicos checos daquela época, Bedrich receberia uma educação ocidental(izante...), e seria apenas a partir da Revolução Checa de 1848 que ele viria a tornar-se um nacionalista convicto. Tinha então vinte e quatro anos de idade. Quando a revolução é esmagada, Smetana viaja para a Suécia, onde ficaria durante quatro anos a trabalhar como professor de piano, maestro e compositor na cidade de Gotemburgo, até ao seu retorno a Praga em 1861 ("Eu sou um Checo, de coração e de alma, e estou orgulhoso em estar cá para a nossa glória", escreveria a um antigo aluno).
E seria na "sua" cidade de Praga que Smetana viria a escrever "A minha Pátria" (Má Vlast), o ciclo de seis poemas sinfónicos que constituiria o mais completo exemplo do espírito checo na música e representaria o culminar da corrente do Revivalismo Nacional Checo do séc. XIX; uma obra a todos os níveis profética, na medida em que seria composta para celebrar a grandiosidade de uma nação que ainda não existiria por aqueles dias, a futura Checoslováquia, com os sentimentos triunfantes de Bedrich numa época de grande angústia para Smetana...
Na realidade, em 1866, e após décadas de luta pelo justo reconhecimento, Smetana seria nomeado maestro principal do Teatro Provisório de Praga (teatro que funcionaria entre 1862 e 1882, ano da inauguração do Teatro Nacional, como local temporário para representações de teatro e ópera), sendo-lhe atribuída a remuneração anual de 1200 gulden e a encomenda de uma ópera (a sua maravilhosa "A noiva vendida"), proporcionando-lhe, deste modo, a oportunidade para concretizar a sua ambição tantas vezes sonhada: a renovação da vida cultural checa pela promoção de uma tradição operática  (...de letra, música e afins...) genuinamente checa.
Ora esse sonho tornar-se-ia muitas vezes num pesadelo. O trabalho que Smetana desejava desenvolver nesse sentido (do sonho) viria a passar por inúmeras dificuldades (de pesadelo), numa época em que a vida cultural checa se encontrava polarizada nos dois extremos opostos do campo político existente: os "Velhos Checos" (Starocech) e os "Novos Checos" (Mladocech). Smetana simpatizaria pelo grupo dos "Novos", daqueles que defendiam a liberdade de pensamento e opinião, composto na grande maioria por artistas e jornalistas, enquanto que os seus patrões das direcções dos teatros (actuais e potenciais) eram sólidos "Velhos", conservadores e com uma tradição de apoiantes nos abastados proprietários de terras (... e fornecedores de 1200 gulden anuais...). Esta realidade viria a conduzir ao inevitável conflito: Smetana era visto como um perigoso modernista, sendo muitas vezes acusado pelo status estabelecido por alegadamente exibir determinadas tendências Wagnerianas, acusações que, em parte, eram verdade. Terão sido muitas as tentativas de destituição do seu cargo à frente do Teatro Provisório de Praga, tentativas a que respondeu de forma vigorosa até ao momento que contrairia a sífilis que lhe viria a aniquilar a audição (entre outros, infelizmente... culminando na própria vida), forçando-o, desta maneira, a abandonar o seu trabalho naquele teatro.
Vysehrad e Vltava (Moldava), os dois primeiros poemas sinfónicos do ciclo "A minha Pátria", terão sido compostos no Outono de 1874, logo após a notícia da doença do autor (Smetana viria, aliás, a ficar totalmente surdo até ao final desse ano), sendo que o compositor continuiria a trabalhar no ciclo durante os anos que lhe seguiram, alternando com a escrita de outras obras (principalmente de câmara e óperas), até ao início de 1879 e à conclusão de Blanik, o último dos poemas sinfónicos do ciclo.
"A minha Pátria", dedicada à cidade de Praga pelo autor, seria interpretada pela primeira vez na sua totalidade, no Teatro (já) Nacional daquela cidade (que Smetana teria ajudado a erguer), em 5 de Novembro de 1882, sendo aclamada com estrondoso sucesso.
Esta obra, que mergulha no imaginário das lendas checas e nos factos recolhidos de alguns dos momentos mais marcantes da história checa, quer se tratem dos mais luminosos ou dos mais obscuros, viria a ocupar um significado especial que permaneceria até aos nossos dias. Iniciar-se-ia com Vysehrad [I], que conta a história da princesa checa Libuse (com ligação directa à sua ópera com o mesmo nome), que imaginaria um futuro glorioso e de liberdade para o seu povo, do alto do seu castelo de Vysehrad, num promontório nas margens do rio Moldava, em Praga. Vltava (Moldava) [II], o segundo quadro do ciclo, segue o olhar de Libuse pela corrente do rio Moldava, desde a sua nascente nas florestas da Boémia até à união com o rio Elba, a norte de Praga, num vasto olhar sobre os cenários responsáveis pela inspiração da banda sonora da caça nos bosques e de um casamento simples e tradicional numa aldeia rural do sudoeste da Boémia, passando pelas danças das ninfas do rio ao luar, castelos orgulhosos, mansões, ruínas e os perigosos rápidos de S. João, até à grandiosidade da cidade de Praga, onde a fortaleza de Vysehrad espreita e o Elba aguarda pacientemente. Seguir-se-ia Sárka [III] e as características do povo (feminino...) checo (e não só...) retratado na lenda da guerreira com o mesmo nome, que vingaria a infidelidade do seu amado Ctirad em todos os homens com quem se viria a cruzar (a cena de amor entre Sárka e Ctirad, com páginas tendenciosamente sangrentas, revelar-se-ia, aliás, num importante exemplo do Wagnerismo de Smetana). No quarto quadro encontraríamos Z ceských luhu a háju (Dos prados e bosques da Boémia) [IV], que à semelhança de Vltava evocaria a poesia das paisagens checas, com belas melodias e ritmos contrastantes, até à sua conclusão com Tábor [V] e Blaník [VI], duas obras ligadas tematicamente, no sentido em que o material melódico que ambas apresentariam derivaria, em grande parte, do coral Hussita "Ktoz jsu bozi bojovnici" (Aqui estão os guerreiros de Deus), que o compositor usaria como afirmação da vontade férrea e do espírito invencível dos guerreiros Hussitas, um movimento revolucionário de descontentamento com a Igreja Católica que durante o séc. XV teria o seu baluarte na cidade de Tábor, no sudoeste da Boémia, enquanto que Blaník apresentaria uma carácter mais introspectivo, reflectindo a narrativa do momento em que estes heróis da história checa se refugiariam no monte Blaník, aguardando até que a sua pátria voltasse a necessitar de si uma vez mais, numa apoteose final de emoção e de optimismo triunfante.
Na estreia de Praga, alguém viria a escrever: "Os acordes solenes de Vysehrad elevou-nos a um tal grau de entusiasmo, que imediatamente após a sua emotiva conclusão, um "Smetana" em forma de choro soou através das centenas que ali se encontravam. Depois de Vltava, libertou-se um turbilhão de aplausos e o seu nome ressoou por todo o lado".
Que bom que teria sido, ter lá estado nesse dia também! (...ou será que estive?!). 

Nuno Oliveira




 "A minha Pátria"


✨ Extractos que proponho para audição:
  • Milwaukee Symphony Orchestra
  • Zdenek Macal
  • Telarc, CD-80265 (obra completa)
"o belo": destaco "Moldava" [II] e "Dos prados e bosques da Boémia" [IV], com alguns
                detalhes a seguir (...e não, não estão a ver mal! Directamente de Milwaukee, no
                Wisconsin, um registo que não deverão perder, com a direcção de um nativo
                Checo, de Brno: o mestre Zdenek Macal!);
                [I]: tutti (Harpa, música de câmara e corais de trompas a contemplar o
                horizonte...) [youtube]
                [II]: madeiras, aos 0:00-0:53 (A corrente inquebrável das águas de um rio formado
                por flautas e clarinetes (sobre)naturais... Isto, senhoras e senhores, é "o belo"!);
                cordas, aos 0:59-2:42 (equilíbrios e melodias inesquecíveis, parte 1...); trompas, aos
                2:43-3:40 (...de caça); tutti, aos 3:48-5:09 (...numa boda de melodias inesquecíveis,
                parte 2!); tutti, aos 8:23-9:28 (...pelas correntes mais fortes!); ... [youtube]
                [III]: tutti (...e um contrafagote que corta...) [youtube]
                [IV]: tutti, dos 0:00 aos... (Poesia, sempre... e um vira do Minho, às vezes...!) [youtube]
                [V]: tutti (Da Cava de Viriato...) [youtube]
                [VI]: tutti (...à Cabeça da Velha!) [youtube]
 




 
  • Czech Philharmonic Orchestra
  • Rafael Kubelík
  • Supraphon, 11 1208-2 031 (obra completa)
"o belo": (Gravação ao vivo do concerto que marca o regresso de Kubelík a Praga,
                após ausência de mais de 40 anos. Um registo nobre, que transparece as
                saudades de casa e as saudades do mestre. Ouve-se muita coisa nova por cá,
                e as harpas a abrir sensibilizam qualquer um. Livre, lendário e imperdível.)
                [I-VI] [youtube], [I-VI] [youtube]





 
  • Wiener Philharmoniker
  • James Levine
  • Deutsche Grammophon, 431 652-2 GH (obra completa), 427 340-2 GH (extractos)
"o belo": (Uma versão repleta de detalhes e maravilhosamente interpretada por uma
                enorme WP, dirigida com total confiança por James Levine.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube], [VI] [youtube]
                [I] [youtube], [II] [youtube], [IV] [youtube]






 
  • Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
  • Libor Pesek
  • Virgin, CUV 5 61223 2 (obra completa)
"o belo": (Leitura que não esquece os sentimentos épicos patrióticos, ou não fosse Pesek um
                mestre nativo de Praga.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube], [VI] [youtube]






  • Czech Philharmonic Orchestra
  • Jiri Belohlávek
  • Supraphon, 11 0957-2 031 (obra completa)
"o belo": (Interpretação cuidada levada a cabo pela orquestra de sempre e o especialista de
                agora, o mestre Belohlávek. Uma escolha de qualidade.)
                [I] [youtube], [II] [youtube], [III] [youtube], [IV] [youtube], [V] [youtube], [VI] [youtube]





 
  • Detroit Symphony Orchestra
  • Neeme Järvi
  • Chandos, CHAN 9230 (apenas Vysehrad e Vltava)
"o belo": (Músicos de Detroit super motivados, sonoridade luxuriante e a mestria de
                Neeme Järvi. A não perder também.)
                [I] [youtube], [II] [youtube]



  
  

  • The Cleveland Orchestra
  • Christoph von Dohnányi
  • Decca, 444 867-2 DH (apenas Vltava)
"o belo": (Interpretação viva dos músicos norte americanos, dirigidos solidamente pelo
                maestro alemão von Dohnányi.)
                [II] [youtube]





  
   
✰ Outras sugestões:








  • Václav Smetácek/Tschechische Philharmonie/Supraphon, 610156-232 (obra completa)[I-VI] [youtube]



 
  • Herbert von Karajan/Berliner Philharmoniker/Deutsche Grammophon, 447 415-2 GOR (apenas Vysehrad e Vltava), [I] [youtube], [II] [youtube]




  • André Previn/Los Angeles Philharmonic Orchestra/Philips, 416 382-2 PH (apenas Vltava), [II] [youtube]



 
  • José Serebrier/The Czech State Philharmonic Orchestra, Brno/Conifer, 75605 51522 2 (apenas Vltava), [II] [allmusic]


 

 

∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞






Bedrich Smetana [c1880]




∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞
 


 
"A minha Pátria" [Malaposta, 8-10-2020]



  -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------